- Gênero: Drama romântico
- Direção: Pedro Maciel
- Roteiro: Pedro Maciel
- Elenco: Olívia Torres, Rafael Lozano
- Duração: 19 minutos
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O que há de complexo no final de uma relação? Não do ponto de vista humano ou psicológico – nesses quesitos, a complexidade sobra – mas do cinematográfico mesmo. Narrativamente, chegamos a esse lugar de forma simples, onde um possível rebuscamento nasce a partir de reflexões filosóficas, algum sofrimento desmedido, mas do olhar da encenação, isso geralmente é um espaço tímido de criação. Pedro Maciel teve a coragem de, enamorado pelo cinema de Richard Linklater, inspirar-se nele para conceber seu Depois do Fim, e tentar resumir em um encontro, uma gama de sensações a partir do esbarrão entre dois ex-namorados, que não se viam desde o término – e já se passaram alguns bons anos.
De maneira direta, sem subterfúgios, é isso: Ana e Théo se esbarram no caminho, e ela acaba oferecendo uma carona para ele, um caminho de 15 minutos, os prováveis mais longos da vida de ambos. Partindo desse pressuposto, Maciel habilmente desenvolve algumas dinâmicas de tom no diálogo, e o filme vai mostrando suas mutações narrativas nesse espaço muito veloz de elaboração. Não é a maior descoberta já feita, mas é exatamente nesse lugar de aparente conforto do que está sendo contado e observado, que sobressaem campos inesperados. No esquema de ‘ação – reação’, Depois do Fim é muito bem sucedido em não mapear essa relação da maneira mais exata possível, porque isso nos permite manter-nos inseguros diante do projeto.
Isso também se deve ao talento – ops, não sei se talento é o único ponto a ser tratado aqui – de Olívia Torres e Rafael Lozano. Porque não se trata de algo tão prosaico quanto talento, mas de uma série de outras perspectivas que precisam ser aliançadas em um projeto como esse. Eles precisavam ter química, mas não uma química avassaladora, mas algo como o fim de uma fogueira em chamas; eles precisavam estar, ao mesmo tempo, desconfortáveis, um com o outro e com o tal reencontro. Ok, tudo isso poderia estar abarcado no talento que ambos vendem, mas não é todo ator ou atriz talentosos que estão prontos para encarar essas micro partículas de sentimentos que foram desleixados aqui e ali, e elencar isso com aparente neutralidade.
Depois do Fim é um filme que se desenrola a partir da simplicidade já citada antes, mas o parágrafo anterior deixa claro que essa textura ruidosa não é simples de ser alcançada. Da reunião entre o autor e seus atores, nasce uma obra que, tal qual nos exemplos de Linklater, só consegue nascer da parceria. E não apenas entre o trio que faz, mas igualmente na maneira como bate na tela, e sai dela, capturando o espectador. A partir de determinado momento, o filme é uma obra viva, um coração pulsante no qual interagimos, nos emocionamos, rimos, nos indignamos, ou seja, vimos todo um reflexo ali. É na capacidade de observar a histórias de tantos que Maciel consegue a magia, a partir da identificação e de como consegue ir além da mesma.
Ainda que compartilhando dessa universalidade capaz de tocar qualquer um, Depois do Fim não é um filme do qual sintamos falta de um arrojo estético, uma cobrança que poderia ser comum. A ambição do filme, no entanto, está lá, na cobertura de câmeras presentes no ‘passeio’, na categoria da aparência improvisada, na coordenação geral de road movie curta. Mas desde a abertura, com a bela montagem em tentativa de aproximar as vivências apartadas dos seus protagonistas, até o plano final, que coroa a carreira de Torres, a cada nova decisão, entrou um conceito para a ideia apresentada. É muito feliz reconhecermos em Maciel um diretor que não se deixa abraçar por pouco, que exala assertividade no que foi criado, e que confia na comunicação da qual seu filme é capaz de proporcionar.
Um grande momento: O plano final