- Gênero: Drama
- Direção: Marco Bellocchio
- Roteiro: Marco Bellocchio, Valia Santella, Ludovica Rampoldi, Francesco Piccolo, Francesco La Licata
- Elenco: Pierfrancesco Favino, Luigi Lo Cascio, Fausto Russo Alesi, Maria Fernanda Cândido, Fabrizio Ferracane, Nicola Calì, Giovanni Calcagno, Bruno Cariello, Bebo Storti, Vincenzo Pirrotta, Goffredo Maria Bruno, Gabriele Cicirello, Paride Cicirello
- Duração: 145 minutos
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Antes do início da Operação Mãos Limpas contra a Cosa Nostra, a máfia siciliana, um homem foi o responsável por estabelecer todas as ligações e revelar vários nomes que mantinham a organização ativa. Era Tommaso Buscetta, o primeiro “arrependido”, como ficaram conhecidos os mafiosos que delataram os esquemas. Preso várias vezes, firmou residência nos Estados Unidos e no Brasil, onde fora preso pela última vez. Após a extradição foi um dos principais colaboradores do juiz Giovanni Falcone.
O longa-metragem de Marco Bellocchio reconta a história do criminoso, apresentando parte da organização, relações familiares e o desmantelo da Cosa Nostra depois que o tráfico de drogas — heroína principalmente — passou a ser a principal atividade do grupo. Irregular na distribuição do tema e insuficiente para dar conta do emaranhado jogo de poder, O Traidor é um filme que demora a engatar.
A primeira parte, destinada à apresentação dos personagens, funciona apenas em partes. Embora haja uma tentativa interessante de individualização, há uma quantidade muito grande de informação, o que deixa o filme superficial e pouco interessante. Enquanto a dinâmica doméstica de Tommaso é pouco envolvente e as interações são rápidas demais, há um esforço para a recriação da época, com uma produção cuidadosa e interessada. Sem falar no estranhamento das atuações, nem todas tão regulares assim e com algumas relações carentes de química.
Além disso, a falta de familiaridade com aquelas pessoas e a história contada é prejudicial. Embora no Brasil, pela presença constante de Buscetta na televisão em meados dos anos 1980, se conheça ao menos um lado da história, muito pouco se conhece dos outros envolvidos na delação. Trocando em miúdos, é como se o povo da Itália fosse dar conta de todos os denunciados por Antônio Palocci na Lava Jato, sem muitas cartelas, prólogos ou narração informativa. Com o público distanciado, é difícil fazer com que as muitas intervenções, como a contagem dos tiros, funcionem como era esperado.
São muitos problemas, mas todos encontram o ponto alto do filme e conseguem ser momentaneamente subliminados. Todo o cuidado com as sequências de julgamento transforma O Traidor, encontrando o ritmo, dando fluidez à narrativa e resgatando o interesse que estava difuso até então. O modo como o diálogo se estabelece, principalmente na interação entre Pippo Caiò e Buscetta, chega de maneira natural, algo bem diferente daquilo que estava sendo visto até aí, com vigor e muita personalidade. É neste novo local que um novo terceiro personagem ganha força e se destaca dos demais: Totuccio Contorno.
Entre muitos baixos e alguns altos, é mesmo como filme de tribunal que O Traidor se destaca e funciona, mas poderia ser ainda mais potente se se dedicasse apenas a isso. E é muito estranho ter sido este o filme escolhido para abertura do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Embora seja uma coprodução com o Brasil e o país tenha uma relação com a história de Buscetta, é um longa muito italiano, e que precisa de conhecimentos específicos que quem está fora do país europeu não tem. A desimportância com que se pode olhar para Giulio Andreotti que o diga.
Um Grande Momento:
“Hipócrita!”
[52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro]