(Música para Morrer de Amor, BRA, 2019)
Com uma deliciosa trilha musical de fossa, com canções realmente de cortar o pulsos, como dizia o título da peça de Rafael Gomes, Música para Morrer de Amor, adaptação dos palcos para o cinema pelo seu próprio criador, é um filme bem intencionado, com pontos de interesse em relações humanas, mas que não consegue se ajustar muito bem ao novo espaço.
Em ambientes entrecortados que não conversam muito bem entre si e interações ator-câmera nem sempre funcionais, o longa-metragem se apega ao texto por vezes infantil, mas que tem o seu charme e o seu apelo, pelo menos para aquilo que se encontra em filmes sobre paixões imaturas e amores perdidos.
Partindo do teatro, com seus dois protagonistas falando sobre Shakespeare, Música para Morrer de Amor deixa clara a sua origem e o caminho que vai seguir de associações e referências para entender o sentimento. Há coisas interessantes, como a identificação da criação sintética do amor romântico, a paixão pela sensação de estar apaixonado e a amizade como um lugar de encontro efetivo, mas falta cadência, falta uma linha narrativa mais efetiva na construção daquelas relações e suas personagens.
Assim, as citações musicais – com ótimas canções – que ganhariam contexto, parecem muitas vezes encaixadas por acaso. Além disso há uma demanda reprimida pelo transitar dos personagens por lugares que o teatro obviamente restringe e a vontade de trazer mais figuras à tela, como no caso de Clarice Falcão e Fafá de Belém em participações não muito necessárias. O que se vê é muito prolixo e perde força com a falta de intimidade com seus atores.
Há ainda um descompasso nas atuações, algumas mais conscientes outras mais passionais e nem sempre tão seguras. O desamarrado do roteiro e sua pressa na construção de personas pode ser uma das causas, a falta de uma direção de atores mais presente também. O problema está nos protagonistas e se agrava nos personagens satélites, embora seja ali que encontre alguns respiros com as participações de Denise Fraga (As Melhores Coisas do Mundo) e Suely Franco (Era o Hotel Cambridge).
No final das contas, Música para Morrer de Amor é um daqueles filmes que poderia ter dado muito certo se mais consciente da necessidade de uma adaptação real para o cinema. Filmes que se inspiram em músicas, principalmente as românticas, e criam universos para conectar as canções têm potencial, mas precisam de mais maturação.
Um Grande Momento:
Felipe e Berenice cantando “Não Aprendi Dizer Adeus”.
[Festival de Pré-Estreias Espaço Itaú Play]
Fotos de Stella Carvalho