- Gênero: Ficção
- Direção: Rossandra Leone
- Roteiro: Rossandra Leone, Pedro Gomes
- Elenco: Adrielle Vieira, Marcéu Pierrotti, Daniel Varga, Marcelos Dias, Joabe Santos, Ana Paula Patrocínio e Danrley Ferreira
- Duração: 19 minutos
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Em 1908, Jack London lançou o “Tacão de Ferro” e abriu as portas para todo um universo de criações ficcionais distópicas, que imaginavam um futuro dominado e doutrinado. Anos mais tarde surgiriam “Nós”, de Yevgeny Zamyatin; “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e “Revolução dos Bichos” e “1984”, de George Orwell, obras fundamentais ao gênero, que não cessa de crescer e apresentar-se nas mais diversas artes, da pintura ao audiovisual. O curta-metragem Blackout é mais uma dessas obras que imagina o “lugar ruim”, indo pela origem da palavra.
Blackout acontece em 2048. Começa em uma festa de rua e chama a atenção pela construção estética em detalhes pontuais que reafirmam a criatividade tão presente nas obras da ficção científica. É um cinema que interessa justamente por essa busca por elementos que representem aquilo que ainda não aconteceu, com elementos deslocados de suas funções originais e outros que estão ali justamente para reafirmar a relação com o presente, ressaltando a possibilidade do acontecimento.
Ao lado da inovação, há uma certa contaminação pela influência das obras definidoras do gênero, nada que também não seja comum às distopias futurista. O filme de Rossandra Leone restringe boa parte de sua ação a uma sala de interrogatório, fazendo referências ainda que não explícitas a elementos huxleynianos como o Grande Irmão, método de vigilância e controle, e a soma, de contenção social, e ao sadismo orwelliano. Há também a modernização, com a inserção de tecnologias que se aprimoram a cada dia.
No espaço físico restrito e asséptico é possível perceber a elaboração estética. Ainda que restrita ao orçamento, ela é bem pontuada com imagens projetadas e outros elemento também já comuns ao gênero, mas eficazes. Se pontuais as intervenções, Blackout se reafirma como um filme de roteiro, onde a palavra tem um grande peso no resultado. E eis aí a primeira questão do curta, falta uma atenção maior à direção de atores. As atuações oscilantes dos atores principais, ambos com bons momentos, mas não simultâneos, fazem com que o texto se torne gradualmente desinteressante.
Afrofuturista, trazendo um contexto de raça muito forte e relevante às dinâmicas de opressão de qualquer distopia, com a definição muito clara dos povos oprimidos e a busca pela reversão utópica iniciada dentro daquela sala, Blackout sofre com a repetição de elementos, destacada justamente pela pouca ligação com o texto. Porém, politicamente, por ser mais uma elaboração empenhada na ficção científica distópica que tanto se confunde com os dias atuais, quando parece que chegamos ao antes profetizado por tantos e enxergamos qualquer retrocesso como possível, tem o seu valor.
Um grande momento
Lavando as mãos.