(Cidade Natal, BRA, 2019)
Cidade Natal é uma experiência, de vida e de cinema. A jovem estudante de cinema de cinema Ana Luísa Mariquito está terminando o seu curso, tem uma ideia na cabeça e não sabe muito bem o que fazer com ela. Os primeiros passos são por um caminho que parece mais seguro, o documentário pessoal, o resgate da própria história, de relações afetuosas. De princípio, ela escolhe a interação em ligações telefônicas com as avós.
Mariquito faz um jogo imagético interessante ao mostrar uma infância com crianças que não podem ser ela, em um presente que não tem a ver com o que dizem aquelas vozes que falam do antes, acrescenta a isso imagens de arquivo, dá então às falas marcas do passado, acrescenta ao narrado temporalidade. Falta certa maturidade na elaboração, mas há uma consciência elaborada a ser observada.
Quando parte para Vitória e muda o dispositivo, Cidade Natal perde a linha narrativa original, Mariquito entregasse ao documentário em primeira pessoa. Abandona então o traço temporal universal mais interessante e mergulha numa elaboração mais pessoal e perde-se na construção da própria história, a atual. O que é parte da construção do próprio fazer documental, nem sempre o que se pensa pode chegar ao resultado esperado, nem sempre existe ali o filme que se esperava. A algo a se aprender.
A diretora aprende isso no processo, reconhece a quebra. “Prefiro a história que eu já vivi”, diz. É difícil construir algo a partir de um ponto do qual já não se tem mais controle nenhum. É preciso saber para onde ir, o que buscar. Ainda crua, Mariquito alcança por vezes, vacila aqui e ali, mas tem muita vontade de acertar e acaba contando a sua história, quer encontrar a sua origem, quer descobrir o porquê a cidade natal não fazer mais sentido e o porquê de ter se afastado. Não consegue, nem chegar à intimidade da descoberta e nem expor isso com clareza, mas tem afeto, e, assim como sabe trabalhar com a passado, tem futuro.
Um grande momento
Mesclando presente e passado.