Crítica | Streaming e VoD

Sem Remorso

Emoções baratas ao estilo 90

(Without Remorse, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Stefano Sollima
  • Roteiro: Will Staples, Taylor Sheridan
  • Elenco: Michael B. Jordan, Jodie Turner-Smith, Jamie Bell, Guy Pearce, Lauren London, Jacob Scipio, Todd Lasance, Jack Kesy, Lucy Russell, Cam Gigandet
  • Duração: 109 minutos

Tom Clancy durante anos, mais precisamente os 1990, foi uma espécie de refúgio seguro das bilheterias de blockbusters americanos, isso no tempo onde os mesmos custavam a terça parte do que custam hoje; eram tão esquecíveis quanto, mas ao menos não tínhamos que acompanhar uma centena de produtos coligados e relacionados durante três décadas. Harrison Ford, Alec Baldwin, Ben Affleck e Chris Pine já foram Jack Ryan, o personagem mais famoso do escritor dedicado à espionagem, ou melhor, sua versão do James Bond. Sem Remorso, produção que teria espaço nos cinemas mas, vítima da pandemia, acabou comprado pela Amazon Prime Video e estreou hoje, é uma espécie de spin-off das aventuras, com o mesmo espírito dos originais noventistas.

O que isso exatamente quer dizer? Que serão quase 2 horas de ação bem construída, porém genérica, que ficará na nossa retina pelo tempo de duração e será esquecida pouco tempo depois da sessão acabar (não percam uma breve cena no meio dos créditos), mas que funciona como diversão escapista com uma tentativa rala de discutir as crises internacionais nos quais os Estados Unidos se envolve hoje, e do qual muitas eles mesmos são os responsáveis. São duas faces de uma moeda que se comunicavam bem no cinema há 30 anos atrás, e que não envelheceram muito em matéria de construção cinematográfica; as relações sim, essas mudaram.

Sem Remorso

Talvez hoje não caiba mais colocar os russos como vilões sanguinários também porque a Guerra Fria faz parte de um passado cada vez mais distante, mas o filme tem um mérito bacana, que é o de sacramentar a visão americana direitista hoje com uma visão tão deturpada em relação a qualquer coisa (no caso aqui, as relações diplomáticas e a linha tênue que pode determinar novos conflitos) que suas falas são capazes de mudar discursos de ordem política e de segurança nacional. Sim, os EUA são os novos vilões de si mesmos, com personagens complexos em suas entranhas… pena que o roteiro de Taylor Sheridan (indicado ao Oscar por A Qualquer Custo) e Will Staples seja tão simplista na elaboração dos seus personagens, e isso acabe por custar ao filme uma relevância que é aventada, para depois ser colocada de lado.

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A direção a cargo de Stefano Sollima (de Sicario 2) se não é burocrática, ao menos corre dentro dos trilhos esperados, no que o roteiro também elabora o caminho para tal. São sequenciadas uns 4 ou 5 momentos de impacto imagético – um deles desgastado, porque se repete no clímax a mesma base – que impressionem o espectador e faça se empolgar momentaneamente, e ao redor dessas cenas é construído o típico filme de traidores entre oficiais, com alguns suspeitos de vilania enfileirados, no qual passaremos 1 hora e meia duvidando, até a revelação final. Já vimos esse filme, com esses mesmos elementos, sendo realizado dentro da mesma receita de bolo costumeira.

Sem Remorso

O quarteto central é muito talentoso e todos já viveram dias mais inspirados no cinema, mas realizam o que podem dentro do que o filme propõe. Guy Pearce (de Los Angeles: Cidade Proibida) e Jamie Bell (o eterno Billy Elliot) transitam em lugares parecidos, mas têm presença e carisma suficientes para se fazer especiais durante a produção. A jovem Jodie Turner-Smith (de Queen & Slim) reforça o talento já visto anteriormente e promete uma carreira que merecemos acompanhar, e o protagonista Michael B. Jordan (de Pantera Negra) não precisa provar mais o grande ator que é, e aqui parece só se divertir, provavelmente pensando nos milhões que embolsou pelo projeto que se pretende uma série – será?

Sem acrescentar nada ao currículo de quem fez ou assistiu, Sem Remorso com certeza fará na tela pequena um sucesso ainda maior do que esse tipo de produção vinha tendo na grande, e esse é um aspecto positivo no saldo final. Chega com estardalhaço para suprir uma carência de adrenalina que o público especialmente sente durante o confinamento, mas diferente de Resgate, por exemplo, pouca coisa restará ao final da sessão. Talvez a certeza de que gostaríamos de ver todos os envolvidos em produções mais relevantes, com o talento que todos já provaram ter – com a exceção de Cam Gigandet, esse merece filmes bem piores que Sem Remorso.

Em tempo: o que Phillippe Rousselot, vencedor do Oscar pela fotografia de Nada é Para Sempre, com outras duas indicações, e que assinou obras como O Urso e Ligações Perigosas, faz aqui? Levemos também ele para o grupo de pessoas que merece um material menos preguiçoso que o filme oferece.

Um grande momento
O tiroteio no prédio

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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