- Gênero: Ação
- Direção: Tanya Wexler
- Roteiro: Scott Wascha
- Elenco: Kate Beckinsale, Jai Courtney, Stanley Tucci, Bobby Cannavale, Laverne Cox, Constantine Gregory, Ori Pfeffer, David Bradley, Susan Sarandon
- Duração: 91 minutos
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O tanto de cheque sustado a cada diálogo constrangedor ou cena surreal que formula a ação desse Jolt – Fúria Fatal, produção da Amazon Studios que estreou direto no Prime Video, combinado a premissa execrável da “segurança de boate com distúrbio de controle de raiva meio fatal” torna impossível qualquer defesa ou desculpa dos responsáveis por esse filme.
Se Atômica — de quem tenta emprestar a estética e a paleta neon — já era sexista e acintoso, tentando disfarçar sua sordidez por meio da combinação sensualidade e brutalidade, o carisma de Charlize e a pegada de HQ noir, Jolt supera as piores expectativas. Até Scarlett Johansson como um pendrive humano em Lucy é um delírio mais palatável do que a Fúria Fatal da heroína à base de eletrochoques de Beckinsale. Ela é Lindy, uma espécime rara do gênero feminino que desde criança manifesta rompantes raivosos com tendências homicidas.
“Acometida de transtorno intermitente explosivo”
Tudo, todos os atos e sequências do filme são erros convalescentes, do prólogo com a Lindy crescendo, sendo sedada e passando por tratamento de choques a toda e qualquer cena onde ela, já adulta, tenta segurar suas crises sanguinárias dando choques que ativam o coleto eletrizado que usa. A mulher-bomba prestes a explodir mas que não se permite aprofundar como personagem já que a narrativa sofre com tão patética execução.
Acrescenta-se aqui a inaptidão da atriz inglesa em atuar, rendendo momentos onde sua personagem expressa profundo ódio, paixão e ironia ao contracenar com atores melhores (pobres Bobby Canavalle e Stanley Tucci), momentos que são invariavelmente irritantes ou até engraçados tamanha a ruindade das cenas e de todos os outros aspectos técnicos de Jolt.
“Porque os velhos asquerosos sempre subestimam as mulheres?”
O tom é de um filme de vingança xexelento, com todos os clichês trágicos de sempre, com uma boa dose de piadas machistas — até ditas pela policial vivida por Laverne Cox, a outra única personagem feminina de destaque –, de homens ardilosos e de situações dramáticas surreais de tão mal arranjadas. O momento sexy digamos, onde Lindy vai “criar uma conexão profunda” involuntariamente se torna uma constrangedora e cômica cena de sexo com eletrodos.
A edição modernosa, com direito a alguns momentos de aceleração na ação — como nos filmes de Edgar Wright –, trilha sonora óbvia com riffs eletrônicos e uma fotografia com tonalidades azuladas, o sangue rubro toda a sorte de clichês dão o tom desse tipo de filme de ação descartável. Jolt é um choque de obviedades que assume o discurso de gênero de maneira desengonçada e patética mesmo dirigido por uma cineasta, Tanya Wexler (de Como Sair de Bufallo), que não faz nada diferente do que os homens que costumeiramente dirigem esse tipo de filme — mulher empoderada e vingativa porém gostosa baixa redenção. Jolt, escrito por um roteirista, não gera raiva em quem assiste pela sua historia simplória e previsível, mas pela insensatez da progressão das ações que encadeiam a trama surreal.
Somando Velozes e Furiosos com Godzilla vs Kong para ter um nível de excelência da vulgaridade cinematográfica, esse acidente cinematográfico produzido é a certeza de que Kate Beckinsale pode até tentar mas jamais fará um filme tão memorável e tosco como os da saga Underworld (porque quando é para ser ruim, Len Wiseman, o cineastra e ex-marido da estrela, capricha). Mas ainda bem que a faísca é curta e Jolt não chega a ter 1h30 de duração.
Um momento marcante
A fuga do hospital
Genérico de “Atômica” e “Lucy”.