- Gênero: Ficção Científica
- Direção: Justin Benson, Aaron Moorhead
- Roteiro: Justin Benson
- Elenco: Anthony Mackie, Jamie Dornan, Katie Aselton, Ally Ioannides, Ramiz Monsef
- Duração: 102 minutos
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Há toda uma mítica que envolve a glândula pineal. Aquela que trabalha de noite, ou na hora em que dormimos, e, dizem, faz crescer. Por isso, está associada à cronologia e aos sonhos. Tudo em Synchronic, nova estreia do Telecine, gira em torno dela. É o órgão do corpo afetado pela droga que dá nome ao filme e está causando as mortes e acidentes misteriosos atendidos pela dupla de paramédicos Steve e Dennis. É também onde está o câncer de Dennis.
O longa é a incursão de Justin Benson e Aaron Moorhead, que já estiveram juntos em O Culto, Primavera e no segmento Bonestorm de V/H/S Viral, pelo universo do thriller policial sem abandonar o fantástico no qual se sentem confortáveis. Este está nas viagens alucinógenas provocadas pela nova droga sintética consumida pelos jovens. A cada uso, uma chamada policial, com ela um atendimento da dupla, que segue um padrão de atendimento e acaba caindo na tentação de entender o que está acontecendo.
O filme se divide entre as histórias dos dois protagonistas. Enquanto Steve é o que traz o lado familiar da trama, com um casamento problemático, uma filha adolescente com quem não consegue se comunicar e um bebê temporão de um ano; Dennis é um homem solitário que precisa lidar com uma doença terminal sem saber muito bem o que fazer. O roteiro, assinado por Benson, vai traçando ligações comuns entre eventos: relações quebradas, que precisam de ressignificação, revelações tardias e coisas do gênero e coisas do gênero.
Da mesma maneira, se ancora em ligações usuais para o andamento da trama, criando pontos de convergência, como a doença e o funcionamento fisiológico da droga; e Brianna, a filha mais velha de Steve e espécie de protegida de Dennis. É graças a ela que as incursões ao fantástico, dessa vez numa pegada menos do horror e mais próxima da ficção científica, se tornam mais presentes no filme. Embora aqui apele demais para o sentimental, com uma covardia no meio disso, inclusive, visualmente, a viagem é bem interessante.
O desenho de produção de Synchronic, assinado por Ariel Vida, antiga colaboradora dos diretores, e a direção de fotografia de Moorhead, um apaixonado pela função, estão entre os pontos altos. Os filtros distinguem os tempos e os personagens. Enquanto a realidade de Steve e Dennis tem sua representação, as pessoas sob influência tem outra e é apenas quando o elemento que em algum momento ligará todos esses mundos que alguma naturalidade aparece em cena. Já a arte consegue passear entre presente e várias ambientações, que vão desde a idade das pedras até a guerra, passando pela enchente do Katrina, as perseguições da Klu Klux Klan no Mississipi e os colonizadores espanhóis.
Já o elenco deixa a desejar. A dupla de atores Anthony Mackie (Vingadores) e Jamie Dornan (The Fall) talvez não seja das mais funcionais, com Mackie se sobressaindo mais do que seu colega de tela, mas também não é nada que comprometa o andamento. No final das contas, Synchronic desperta alguma curiosidade, funciona bem naquilo que se propõe e supera as escorregadas pelo caminho.
Um grande momento
Fogueira