Letra e Música

A nostalgia sempre é um bom ingrediente para qualquer obra. Voltar no tempo, relembrar momentos marcantes e com passagens muito características, é uma escolha sempre segura. E há elementos que facilitam ainda mais a empreitada. Imagine levar uma plateia específica, que viveu intensamente o final dos anos 1980 e começo dos 1990 para trazer de volta suas cores, músicas chiclete em uma velha e boa comédia romântica.

Nosso primeiro contato com o universo de Letra e Música é através do clipe divertidíssimo de um duo musical que teria feito muito sucesso nos anos 80. Pop! Goes my heart! Ombreiras, mullets, dancinhas ridículas e um visual bem característico da época deixam aqueles que viveram estes momentos mais do que curiosos. Não é ali que o diretor Marc Lawrence vai ficar. Seu interesse é numa outra época, com o cantor e compositor saltitante de antes já descadeirado, num presente frustrado e dependente dos direitos autorais de outrora.

A história de amor acontece entre ele, que agora está em eterna crise criativa, e uma letrista disfarçada de babá de plantas muito desajeitada. Juntos os dois devem compor a nova música de trabalho de uma cantora que, assim como as muitas que costumamos ver em canais de clipes e em outros mais voltados para a fofoca, adora um Auto-Tune, muita coreografia, pirotecnia e não se importa com a profundidade das letras cantadas.

Embora a crise também atinja a nova geração, que, desespero dos ávidos produtores, busca de alguma espiritualidade em sua plástica realidade, há um conflito interessante entre novo e antigo. Letra e Música brinca com a cultura pop, a fama e o tempo que passa sem nenhuma piedade para quem vive nesse meio. E existe, claro, toda a força da trama de romance, perfeitamente encaixada na tradicional estrutura do gênero, mas que ganha força com esses elementos extras.

Os personagens são defendidos por Hugh Grant, já muito a vontade como o apaixonado tímido depois de tantos filmes no mesmo papel, e Drew Barrymore que além de ser uma gracinha, também já sabe como deve fazer para representar uma mulher ingênua, atrapalhada e apaixonada. Lawrence reconhece a química entre os dois atores e sabe trabalhar bem com isso. A estreante Haley Bennett, ótima, surge como a cópia divertida de Britney que vem para mostrar que o tempo passou e, de certo modo, unir o casal.

Se o formato é conhecido e os conflitos são interessantes, identificações e nostalgia se encarregam do resto. As letras da músicas do Pop!, o antigo grupo de Grant e que continuam sendo cantadas em bailes destinados exclusivamente às balzaquianas, são bem bobinhas e lembram muito os grandes sucessos da época homenageada. O desespero do cantor para tentar manter um sucesso que já não existe também rende boas risadas e tem o seu ponto alto quando ele é convidado para participar de um programa de televisão onde celebridades do passado lutam.

Divertido e leve, Letra e Música não tem nenhuma pretensão de ser uma obra de arte, mas consegue envolver toda a platéia.

Para ver ao lado de alguém especial; relembrar um tempo exagerado, mas que foi muito divertido e dar umas boas gargalhadas. Pessoas avessas a filmes do gênero podem não gostar.

Um Grande Momento

O clipe, sem dúvida. Ele começa e termina o filme e da segunda vez tem aquelas historinhas contando o que aconteceu com os artistas em balões, como em programas dos canais MTV, VH1 e outros