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Mona Lisa e a Lua de Sangue

(Mona Lisa and the Blood Moon, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Fantasia
  • Direção: Ana Lily Amirpour
  • Roteiro: Ana Lily Amirpour
  • Elenco: Kate Hudson, Jeon Jong-seo, Craig Robinson, Ed Skrein, Evan Whitten, Lauren Bowles, Serene Lee, Cory Roberts
  • Duração: 106 minutos

Tem tanta coisa ali naquela menina com poderes sobrenaturais imaginada por Ana Lily Amirpour. A diretora gosta de criar universos fantasiosos, seja na vampira de Garota Sombria Caminha pela Noite ou na gangue de famintos outsiders de Amores Canibais, ela não se interessa pela normalidade para falar dos assuntos do cotidiano que a interessam. Mais uma vez, em Mona Lisa e a Lua de Sangue, as mulheres dominam a trama, mas há um quê de exclusão e do desconhecido, de como se olha para ele, que predomina.

A protagonista que dá nome ao filme, vivida pela jovem Jeon Jong-seo, é uma espécie de super-heroína com poderes telecinéticos que passou dez anos presa em um manicômio e consegue escapar. Norte coreana, ninguém sabe nada sobre ela, e ela não sabe nada sobre o que a espera fora daquele lugar, o submundo de Nova Orleans. Quem a conduzirá é a stripper Bonnie Belle, uma mãe que contraria todos os padrões e só pensa em se dar bem vivida pela veterana Kate Hudson. Do outro lado está o policial certinho, mas contaminado, Harold, vivido por Craig Robinson, que parte numa espécie de busca perdida entre o medo e a vingança.

Mona Lisa e a Lua de Sangue é um filme que se aproveita das cores da noite e do ar frenético de um lado nem sempre mostrado de Nova Orleans. Se interessa pelo neon das casas noturnas sem deixar de buscar o lado místico da cidade que dialoga com aquilo que domina todo o filme, ainda que isso não apareça tanto assim. Longe dos filmes anteriores da diretora, há uma leveza na condução do longa, que olha para personagens – e aqui a presença do pequeno Charlie (Evan Whitten) faz a diferença – de forma menos pesada, destacando seu lado mais ameno, além de dar ao humor mais espaço.

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Porém, nem tudo é tão brando, o modo como Mona Lisa é recebida contraria qualquer coisa que se assemelhe com empatia e suavidade e há várias quebras de conceitos, em especial quando se pensa naqueles bem estabelecidos como o da maternidade. Justificada, a personagem de Bonnie surge como uma grande expectativa frustrada e faz o contraponto ao universo de não aceitação do desconhecido. São partes curiosas de um filme que salpica sua mensagem enquanto se disfarça de um menos profundo jogo de golpes e perseguição.

Se disfarça por um tempo. A grande questão por trás de Mona Lisa e a Lua de Sangue é que o filme cria caminhos demais e abre muitas portas sem conseguir alcançar tudo aquilo que almeja. O potencial existe, é um fato e está posto, mas não chega a se concretizar totalmente, e é como se momentos menos intensos tomassem conta daquilo que deveria ter mais potência. Todo o poder de Mona Lisa se perde no meio do caminho para dar lugar a situações banais que deveriam estar em outros títulos, não nesse.

O interesse criado não deixa de existir e a aura criada por Amirpour, ainda que se transforme muitas vezes, se sustenta até o final. Diferente daqueles que cruzam o caminho da protagonista, à exceção de Charlie, o vínculo criado persiste. Também não deixa de ser divertido, embora menos instigante para alguns, acompanhar a fuga daquela menina que busca encontrar algum lugar onde se sinta pertencente.

Um grande momento
Pé de galinha

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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