- Gênero: Drama
- Direção: Esteban Cabezas
- Roteiro: Fernández Lieste
- Elenco: Moisés Angulo, Daniel Antivilo, María Jesús González, Juan Pablo Miranda, Rodrigo Soto
- Duração: 80 minutos
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Muitos filmes já foram realizados visando o estudo de um personagem, com inúmeros resultados satisfatórios. É um conceito rico para uma produção, que não pode ficar atrelada exclusivamente a essa ideia para se desenvolver a contento; a não ser que se trate de um monólogo, outros ingredientes precisam ser adicionados à mistura. A Taça Quebrada é um exemplar bem sucedido do gênero, que disseca a personalidade de seu protagonista em um exercício de thriller dos mais eficazes, que funciona por continuamente apresentar segmentos onde a suspensão da tensão esteja em permanente manutenção, levando o espectador a uma expectativa de tragédia.
O diretor Esteban Cabezas estreia na direção com essa produção chilena que trabalha o mínimo do seu escopo, reduzindo as questões cinematográficas a um detalhamento que converge positivamente para o resultado final. Suas costuras para chegar a um resultado de qualidade são de teor sutil em escala milimétrica em relação à realização, estética ou narrativamente. Todas as suas decisões são arregimentadas por uma ênfase em suprimir o agudo das cenas, dos desenhos representativos, das molduras de cada personagem; o que sobra é a ideia de apresentar uma ideia mutante, que pode ser encarada por um viés de eterna descoberta de seus passos seguintes.
O universo de Rodrigo, o protagonista, é um indesejável satélite de sua ex-família – Clara e seu filho. Ele não se distancia da nova configuração que se formou com a sua retirada, e assim segue orbitando de maneira invasiva um espaço onde nada mais é seu. Ele sente que está perdendo até o espaço de pai para o novo namorado de sua ex-esposa, e aos poucos se insere em uma configuração que já não lhe pertence. Passado em menos de 24 horas, A Taça Quebrada investiga os acontecimentos de conflito sob o qual Rodrigo enxerta no quadro, que se apequena diante de suas ações, sempre castradoras.
Rodrigo não é suavizado pelo roteiro. Sua presença é desestabilizadora, caótica e abrangente, consegue espreitar-se enquanto ninguém olha e invade frestas com suas recusas em abandonar o espaço cênico, que é devassado por alguém que só quer ser notado, talvez querido. Apesar de uma certa melancolia com que o personagem se deixa arrebatar vez por outra, embora o filme tente ouvi-lo, não há paternalismo com o que ele propõe. O filme o entende como uma figura ameaçadora, que age nas sombras e cujas atitudes são traiçoeiras, por isso não lugar para o patético; Rodrigo é um elemento de risco aos personagens restantes.
A performance minuciosa de Juan Pablo Miranda é talhada para provocar desacerto em um cenário que convence pela veracidade. Na sua arquitetura simples, a casa onde se passa 95% de A Taça Quebrada é modificada pela presença de Miranda, que se apossa de tudo que vê pela frente e está integrado de maneira natural com suas paredes, cômodos e objetos. O trabalho do ator é instigado por Cabezas, que vai ao largo no enfoque tradicional narrativo sem explicitar seu rosto ou corpo, traduzindo toda sua proposta por meio da mise-en-scene – a câmera está longe, capturando os quadros pelo conjunto, com o olhar capturando todos os personagens, toda a ação até antes do tal “início”, e indo além do “fim”.
Um grande momento
O encontro entre rivais