- Gênero: Suspense
- Direção: Nora Fingscheidt
- Roteiro: Peter Craig, Hillary Seitz, Courtenay Miles
- Elenco: Sandra Bullock, Viola Davis, Vincent D'Onofrio, Jon Bernthal, Richard Thomas, Linda Emond, Aisling Franciosi, Emma Nelson, Will Pullen, Tom Guiry, Jessica McLeod, Rob Morgan
- Duração: 112 minutos
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Nos acostumamos a ver estrelas de Hollywood com a mais impecável presença dentro e fora das telas, sempre parecendo que a qualquer momento sua imagem será devidamente arranhada para que entendamos se tratar de uma interpretação ainda mais desafiadora. Sandra Bullock, no passado, já perdeu a chance de protagonizar ‘Menina de Ouro’ e ganhou um Oscar por um papel ultra glamourizado, a dondoca que cria um futuro astro esportivo em ‘Um Sonho Possível‘. Sua hora de abdicar dos penteados e do rímel chega em ‘Imperdoável’, lançamento Netflix que seria uma aposta para a temporada de premiação não fosse seu ritmo tão afeito ao thriller – um thriller muito melancólico, mas ainda assim um thriller – com seus plots e surpreendentes revelações.
A diretora Nora Fingscheidt (de ‘Transtorno Explosivo‘) adapta em formato de longa uma minissérie escandinava, e tenta buscar na base da dramaturgia uma forma de lidar com a humanidade de seus personagens, em uma colcha de retalhos que vai sendo costurada aos poucos. Com um tema que acaba de ser explorado de maneira documental no recém-assistido ‘Ainda estou vivo‘, aqui a ressocialização de carcerários é a base da trama, que descortina a rotina de uma mulher em liberdade condicional com um passado marcado por um ato de violência extrema. Como é discursado no filme de André Bonfim, a sociedade não tem interesse real em lidar com pessoas que já consideradas desqualificadas e postas em situação de abandono social.
‘Imperdoável’ investiga de maneira amplificada os lados mais complexos da questão. O que merece da sociedade uma pessoa que pagou pelo seu erro; o que cada um desses erros acarreta no seu entorno, sua ligações próximas; como ficam as vítimas que sofreram o ato perpretado, e os sobreviventes a esses atos – com propriedade, cada lado é compreendido e assimilado. Como temos uma estrela no centro dessa culpabilizaçâo, o filme joga com o espectador e usa a imagem de Bullock para reverberar uma discussão que não tem apenas um lado correto. A intenção é exatamente desconfigurar não apenas sua protagonista, como cada um dos coadjuvantes, pessoas reais que erram e acertam com a mesma frequência, impedindo a produção de deter uma única verdade.
‘Imperdoável’ não se encerra em uma linha narrativa. O filme abre o seu flanco sobre três documentações, onde muito erro é cometido em cada uma das fatias. Esse é um dado de importância: o que os une, na verdade, são muito mais seus deslizes e incongruências particulares, são personagens absolutamente desprovidos de razão, que acabam empilhando erros, e nessa ciranda, os erros de uns provocam erros de outros, numa roda onde é difícil se compadecer de alguém, já que todos estão em lados ingratos de suas próprias histórias. O roteiro é inteligente quando propõe que nada ali é de fácil resolução porque não é mesmo; existe dor e existe causa, e existe a certeza de querer apagar essa dor, que na maior parte das vezes é auto infligida, mesmo que não se queira.
A montagem do longa é eficiente em alocar interesse, ritmo e relevância em cada uma das narrativas que seguem se chocando, e não permite que uma sequência de eventos tenha mais ou menos importância que a outra. Há um entendimento geral de que é uma história de encadeamento coletivo, que só consegue fazer sentido ao ser tratada como um bloco que se entende em conjunto. Não é porque Sandra Bullock é a protagonista que sua passagem é a de peso maior, sua presença é uma armadilha, como já dito acima, para que sejamos capaz de ultrapassar a empatia diante de tantos erros. Com o trabalho de montagem fazendo o possível para que a relevância da produção ultrapasse os alcances de uma série televisiva, o filme não busca uma textura que o diferencie, sem criar uma ideia de personalidade ao longa.
A presença de Viola Davis não é devidamente aproveitada, na verdade quase parece um desperdício que seu nome esteja em prol de uma personagem tão terciária, mas quando o filme se encaminha para o desfecho e vemos que será em suas costas que o grande plot será revelado, o filme deixa vazar que não apenas a atriz como a personagem merecia mais. Esse é um outro problema que existe em ‘Imperdoável’, sua argamassa é de qualidade mas o filme não compôs cada um dos seus elementos de substância suficiente. Com uma estrutura de clara dedicação construtiva, o filme não se aprofunda tanto assim dos responsáveis pela sua sustentação. Ainda assim, é uma reflexão acima da média acerca do quanto de dor pode produzir um crime.
Um grande momento
Ruth caminha pela rua após ser descriminada