- Gênero: Drama
- Direção: Mathieu Gérault
- Roteiro: Noé Debré, Mathieu Gérault, Nicolas Silhol
- Elenco: Niels Schneider, Sofian Khammes, Denis Lavant, India Hair, Thomas Daloz, David Ayala, Saadia Bentaïeb, Hocine Choutri, Hocine Mokando, Ilias Le Doré
- Duração: 97 minutos
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Soldados regressados de ambientes de guerra traumatizados por conflitos bélicos são base de matéria-prima do cinema desde sempre, vide Os Melhores Anos de Nossas Vidas, vencedor do Oscar de 1947. Com o passar do tempo, essas narrativas foram perdendo um viés melodramático e algumas vezes até ufanista para ganhar os contornos hiperrealistas de hoje, principalmente depois de um novo vencedor do Oscar, Guerra ao Terror. Em Sentinela do Sul, essa visão mais pé no chão a respeito dos resultados psicológicos e práticos de tais ações estão mais avançadas em discussão, até por ambientarem-se em zona de discussão imigrante, o que carrega de mais significados sua narrativa. O resultado não é uma ideia original, mas isso não diminui sua entrega ao drama tão explícito quanto possível.
O diretor e roteirista Mathieu Gérault estava fora do mercado há 15 anos, então a segurança que ele apresenta na condução de uma trama que equilibra tantos elementos chega a impressionar. Além desse já mencionado drama sobre traumas de guerra, também estão presentes um policial sobre tráfico de drogas, uma narrativa íntima sobre a solidão e o desamparo do Estado aos proclamados heróis nacionais, um tímido romance entre tipos perdedores, isso tudo junto. Acaba por ser uma mistura azeitada, que funciona ao propor que cada um desses elementos potencialize o outro, dando um ar pesado à narrativa. Os poucos momentos leves são protagonizados ora por uma mãe solteira, ora por um rapaz internado em uma instituição mental. Esse excesso pede ao filme uma válvula de escape que se imagina sendo suprido pela trama policial.
Em cena, esse protagonista, Christian, é um cara inserido em um universo de exceções. Imigrantes árabes, ciganos, franceses com poder aquisitivo nulo, já eram a sua realidade antes do alistamento; ao voltar trazendo corpos, culpa e alguns amigos enfermos, seu maior sonho é voltar, pois não se reconhece mais em casa. Nada que não tenhamos visto, porém, em títulos como Sniper Americano – o que tem de novo aqui é a forma mais crua com que é mostrado essa reintegração social, quase inexistente. O filme tenta organizar isso de maneira a denunciar essa situação, mas o fato de não conhecermos um lado mais ameno a ser empregado nesse todo, uma situação de real esperança ou de compreensão de outro lado, deixa o filme só pesado, sem saída.
A realização em nenhum momento passa ideia de desacerto; está tudo no lugar esperado, em narrativa e direção. Mas esse tema, que parece e é muito específico, com camadas que divergem de país para país, que são intensificados de acordo com as diferentes camadas sociais apresentadas, não apresenta grandes transformações por aqui. Temos em cena uma narrativa seca, interpretada com profundidade, mas que não consegue uma adesão do espectador, porque essa narrativa de Sentinela do Sul, em todos os detalhes apresentados dentro e fora de sua temática principal, não surpreende. Além disso, não há espaço para uma escapatória ainda que no limite da ilusão; as cenas onde o filme parece respirar um oxigênio menos viciado, são as que carregam o interesse do público até o final.
São faíscas de apreciação soltas pelo seu desenrolar, que não conseguem criar um material de elevação conjunta. O close entre Christian e a caixa da joalheria durante o assalto, o início do namoro na frente da fogueira, o jogo de basquete na instituição e o pedido de casamento duplo, são alguns dos exemplos que se encaixariam em uma equação bem sucedida. Em paralelo a essas cenas, no entanto, temos aqueles momentos cansados de apresentação familiar de um clã mafioso durante uma festa, aquele ponto limítrofe onde as verdades são ditas para magoar dentro de uma relação, o ciúme de um amigo consciente de que não era quem seus pais queriam que ele fosse. Sentinela do Sul não consegue criar uma trajetória tranquila de acertos, e acaba por se transformar em uma estrada cheia de declives para o espectador.
Mais uma vez, no entanto, o elenco coloca o patamar geral acima da média, ainda que pouco. Niels Schneider e Sofian Khammes começam uma trajetória ascendente dentro da filmografia francesa, sendo constantemente lembrados para premiações, e sua química aqui é invejável; ambos conseguem transmitir cada mínima nesga de dor que esses dois homens passam diariamente. São homens destruídos pela vida, em estágios diferentes de desespero, mas cuja saída não parece amigável para nenhum dos dois. Além deles, todo o elenco está em perfeita sintonia para contar essa história pouco original, mas ainda assim pungente, sobre a perda de qualquer categoria de esperança no amanhã.
Um grande momento
O clipe de Christian e Mounir