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A Ilha

Preguiça e insatisfação

(Grand Isle, EUA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Stephen S. Campanelli
  • Roteiro: Iver William Jallah, Rich Ronat
  • Elenco: Nicolas Cage, KaDee Strickland, Luke Benward, Kelsey Grammer, Zulay Henao
  • Duração: 97 minutos

Nos anos 1940, o cinema era coalhado de tramas de suspense como essa que se vê em A Ilha (tradução imprópria do título, aliás, já que Grand Isle é o nome da cidade). Melhor acabadas e mais elaboradas do essa, é verdade, mas não faltavam histórias de assassinatos não vistos e que acompanhávamos ser explicadas em flashbacks por meio de confissões em alguma delegacia de políca. No longa de Stephen S. Campanelli, que tem um longa carreira atrás das câmeras no departamento de fotografia e inclusive já trabalhou algumas vezes com Clint Eastwood como segundo assistente de diretor, vemos Buddy se envolver com um casal esquisito depois de ir a casa deles para consertar uma cerca e acabar tendo que ficar lá por tempo demais.

Embora haja tentativas de trazer elementos mais apurados, não é difícil perceber que, esteticamente, falta requinte na execução do filme. A arte que recria o final dos anos 1980, transpira falsidade e, assim como a fotografia chapada, cortes e planos equivocados, mais atrapalha do que ajuda na construção da atmosfera. A sorte é que o enredo tem seus atrativos, e o roteiro de Iver William Jallah e Rich Ronat, quando não está perdido em definições de personagens e baboseiras sobre seus backgrounds, consegue fazer alguma graça com as reviravoltas da trama. Mesmo que exista algo de previsível aqui e ali, como tudo que se constrói na primeira parte funciona.

A Ilha (2019)
Screen Media Films

No campo das atuações, a irregularidade se faz presente. Às vezes nem tanto pelos atores, mas pelo pouco com que alguns deles têm para trabalhar. Nicolas Cage, que não precisa de maiores descrições, e KaDee Strickland, de O Gângster e Vingança a Qualquer Preço, interpretam o casal Walter e Fancy Franklin, enquanto Luke Benward, de Wildcat, é Buddy. Há ainda Kelsey Grammer, o eterno Dr. Fraser, fazendo uma ponta como o detetive de polícia responsável pelo caso. O destaque, como não poderia deixar de ser, é Cage em mais um dos muitos filmes de gosto duvidoso que compõem sua filmografia atual. Como vilão, ele consegue transitar em várias chaves e, mais uma vez, faz um trabalho divertido para os fãs. Os outros alternam-se e equilibram-se na inconstância.

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A Ilha, apesar de ter a intenção ser sagaz, não deixa a impressão de querer ser algo nunca feito antes, ou um filme inesquecível, por vezes chega quase perto de ser preguiçoso. É um daqueles longas pensados para entreter o espectador com dicas que indicam o caminho errado e expectativas que não se concretizam, como outros tantos do gênero. É funcional no limite de suas imperfeições. De alguma maneira, o que se vê prende a atenção até certo ponto e isso significa alguma coisa, pena que se perca completamente depois de um tempo.

A Ilha (2019)
Screen Media Films

E é o próprio filme que se sabota. Se A Ilha estava deixando a desejar em alguns pontos, o final do longa atinge um outro patamar de insatisfação. Enquanto havia algum suspense durante o depoimento de Buddy, era possível passar por cima de todos os incômodos e da pouca sofisticação, mas depois que o mistério se revela isso desaparece. A terceira parte descamba para algo bem menos interessante, com obviedades menores, pouco eficientes e até o sentido deixa de existir, o que culmina em um desfecho apartado do conjunto geral, quase um fetiche de qualquer diretor que hoje trabalhe com Cage e queira ver o ator fazer das suas. Ficam as reviravoltas do começo e a vontade de trabalhar o suspense, ainda que elas não sejam suficientes para apagar o desacerto.

Um grande momento
Prego na mão

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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