Crítica | Streaming e VoD

O Sol de Amalfi

Sol pálido

(Sotto il sole di Amalfi, ITA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Martina Pastori
  • Roteiro: Caterina Salvadori, Enrico Vanzina, Ciro Zecca
  • Elenco: Lorenzo Zurzolo, Ludovica Martino, Isabella Ferrari, Luca Ward, Davide Calgaro, Raz Degan, Elena Funari, Marit Nissen, Andrea Occhipinti
  • Duração: 95 minutos

Há exatos dois anos, a Netflix estreou em sua programação O Sol de Riccione, título italiano de procedência duvidosa que nem chegou a fazer sucesso por aqui, mas deve ter feito na sua terra. Nem sei se isso justifica uma continuação do título, mas querendo ou não, acaba de estrear O Sol de Amalfi no streaming, dando a entender inclusive que uma terceira parte pode aparecer há qualquer momento. Não conseguimos encontrar justificativa plausível para a existência de nenhum dos dois, além de entregar um passatempo pálido para o público local. Tematicamente estéril, a “franquia” conseguia ter muitos problemas em sua vã tentativa de criar algo de minimamente interessante em sua proposta. Mais uma vez os esforços são em vão, e o espectador que siga tentando compreender seu tempo de vida perdido ao encontrar esta produção.

No primeiro exemplar, lembro de dizer que nem Riccione era valorizada nem o tal sol do título. Pois bem, acho que dessa vez há um espaço simpático para Amalfi desfilar suas belezas, ainda que esteja longe do ideal de um cartão postal – é essa a função do filme, não? No lugar de observar a interação entre os personagens e o espaço físico à sua disposição, a produção mais uma vez tenta comentar assuntos absolutamente desinteressantes a respeito dos personagens. Mas isso também se dá por conta do quanto esses tipos são vazios de personalidade, restando a eles repetir ações maniqueístas e suas reações pouco orgânicas. Estão todos inseridos em uma fórmula antiquada de comédia romântica, e nem estou me referindo aos clássicos do gênero. 

Na primeira parte dessa jornada, algo que salta aos olhos agora tinha me passado despercebido, e é angustiante os motivos pelo qual agora essa questão é evidente. Em 2020, os mesmos adolescentes brancos ricos e heteros estão em cena, na representação mais insípida de uma juventude bem nascida e cheia de privilégios. Devem ter ouvido críticas e dessa vez uma personagem vivida por uma atriz negra é introduzida ao certame, só pra deixar claro que sua presença não alterou nada o grupo. A personagem da atriz Kyshan Wilson não tem qualquer questão relacionada à sua cor, mesmo que a diferença entre os personagens seja visível. Não é por classe que o filme não o faz, nem por grandeza, mas por falta de visão mesmo – chega a ser desconfortável que sua presença em um mar de branquitude não exerça nenhuma força de ruptura.

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O rapaz deficiente visual vivido por Lorenzo Zurzolo, que era o ponto único de interesse do filme anterior, aqui assume o protagonismo e seu charme (que não era nada fora do comum, diga-se) desaparece. Suas questões permanecem as mesmas, ele ainda tenta dissociar sua deficiência da superproteção materna, e agora essas mesmas dúvidas recaem também sobre a namorada. O personagem Furio, que já era meio irritante há dois anos, é ainda mais complexo de aturar; engraçadinho e unilateral, o rapaz atira para todos os lados, não acerta nenhum e têm saídas que o tornam cada vez mais difícil. E a mãe do protagonista também não parece ter amadurecido, chegando a cometer atitudes absurdas em contextos impensáveis, tudo porque o roteiro assim quis. 

Pra finalizar, há uma chuva de incoerência por toda sua duração. Os personagens falam uma coisa e realizam outra, sem qualquer sinal mínimo de condução para qualquer lado. É quase surreal imaginar que o roteiro de O Sol de Amalfi foi escrito há seis mãos, e ainda assim ninguém conseguiu perceber suas incongruências e falhas graves. A diretora Martina Pastori faz sua estreia aqui, mas não há qualquer sinal de renovação entre o filme anterior e esse novo, dois títulos que fazem valer nosso sentimento de tempo perdido à perfeição. No fim das contas, uma prova de que muito pior do que um filme ruim, é um que abre mão de  absolutamente qualquer interesse, e que o pessoal do público direto merece uma renovação de linguagem. Não é nesses casos que essa questão entrará, a princípio. 

Um grande momento
Nenhum

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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