- Gênero: Drama
- Direção: Vahid Jalilvand
- Roteiro: Vahid Jalilvand
- Elenco: Navid Mohammadzadeh, Diana Habibi, Amir Aghaee, Saeed Dakh, Danial Khairikhah, Alireza Kamali
- Duração: 125 minutos
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O cinema iraniano é prodigioso em narrar histórias sobre eventos que partem de algo muito banais, muitas vezes pessoais que se entendem dessa forma, e que adquirem status de parábola social conforme a sucessão de eventos o tire dessa banalidade. Com o avançar dos anos, o Irã não mais produz apenas aquele cinema humanista e introspectivo, mas essas análises quase investigativas a partir de propostas observacionais que até se baseiam no indivíduo, mas que se arvoram para as condições sociais do país. Esse novo Além das Paredes acaba de competir no Festival de Veneza e vem dessa vertente mais tensa, ainda que ligada no humano de muitas formas. Sua aproximação com o público acaba sendo sentida de maneira mais direta, pois é mais uma produção cuja interação é inevitável.
Vahid Jalilvand teve seu filme anterior, Sem Data, Sem Assinatura, incluído na listagem prévia de pré-indicados ao Oscar de filme internacional, ganhou prêmios na seção paralela de Veneza há cinco anos, e com isso seu nome ganhou esse respaldo com que se encontra agora. Esse novo filme segue um fluxo crescente do cineasta com questões de ordem pública e sistêmica do país, aqui talvez de maneira mais interiorizada. É um filme que sai das tais paredes do título apenas para sequências em flashback envolvendo uma comoção popular que será esclarecida durante a projeção – o melhor é assistir ao filme se sentindo como a protagonista durante essa barafunda, absolutamente perdidos. Essa é a intenção do diretor, nos jogar em um olho de furacão difícil de definir e compreender.
A história de Além das Paredes, também de autoria de Jalilvand, se concentra nesse espaço físico mais exíguo, um apartamento onde mora Ali, um homem em avançado processo de cegueira. Navid Mohammadzadeh, já premiado pelo longa anterior, aqui demonstra ainda mais capacidade com um personagem que exige muito a cada nova sequência. Seu trabalho é mais da metade do que representa os valores qualitativos da produção, que coloca em suas questões muita tensão e muito dos elementos que regem nosso interesse. Aos poucos, o cerco vai se fechando para esse homem dentro de sua própria casa, e eles não está relacionados à visão, exatamente; constantemente invadido, Ali é um personagem maior que a produção.
Contracenando diretamente com ele, Diana Habibi tem a ingrata missão de estar em clima de desespero quase 100% do tempo, com o rosto lavado de lágrimas ininterruptamente. Seu trabalho é contaminado, o exagero sai de sua área de atuação e corre livre em direção ao próprio filme, que é baqueado por esse esquema muito artificial. Há um desnível desses dois atores, e isso não é propósito de um ou de outro, mas do lugar onde a direção encaixa seus atores, que estão em registros absolutamente diferentes. Não demora para que o cansaço invada todos os espaços, e o filme siga arrastando cenas repetitivas, gestos que se empilham sempre na mesma direção, e Além das Paredes pareça muito menos efetivo do que é, com tanta histeria em cena.
O roteiro, no entanto, prepara o espectador para uma série de viradas que até podem ser adivinhadas previamente, mas que funcionam na superfície. Quando a análise começa a ser feita a respeito dos entrechos apresentados, Além das Paredes sai de seu lugar autoral para ocupar um espaço hollywoodiano de resolução narrativa. Na prática, isso significa destituir o roteiro de lógica e deixar correr solta muitos vôos de imaginação, para que as possibilidades possam concatenar; se a lupa for colocada para trabalhar, as arestas ficarão mais do que aparentes. Do jeito que é apresentado, o filme é uma vitrine viva onde não podemos procurar os defeitos, porque eles existem; ainda assim, as qualidades também são evidentes, e dependendo do púbico, somente elas serão visualizadas.
Sob a luz da direção, também não podemos exigir muito de Além das Paredes, que entra como um retrocesso para Jalilvand em relação ao anterior. Carregado de emoção e suspense, o filme tem válvulas populares que farão sua apreciação mais fácil, e também o espectador exigente pode entrar na brincadeira de gênero do diretor. Tendo a consciência de que se trata de um castelo de cartas frágil, ainda que muito vistoso, a experiência tende a crescer e se mostrar até bem eficiente.
Um grande momento
A primeira cena