- Gênero: Comédia, Romance
- Direção: Sebastián de Caro
- Roteiro: Gabriel Korenfeld, Rocio Blanco
- Elenco: Luisana Lopilato, Juan Minujín, Cristina Castaño, Aaron Miglio, Andrea Rincón, Vicente Archain, Aylén Malisani, Julián Lucero, Santiago Gobernori
- Duração: 99 minutos
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Tem uma esperteza na narrativa de Matrimilhas que dura bem pouco, porque sua intenção é narrar o eterno desgaste das relações conjugais. Essa gracinha que o filme faz com o roteiro, que mostra um aplicativo que rastreia os desejos humanos e transforma o processo de realização dos mesmos pelo seu parceiro em um sistema de milhas (como de viagens aéreas), dura mais ou menos o primeiro bloco de acontecimentos do filme. Logo vem a certeza de que estamos de frente para um produto mais tradicional, que criou uma maneira inusitada para contar a mesma história de sempre. Ou seja, é o cinema de sempre né, porque quantas vezes já vimos essa estratégia ser utilizada? Todo ano tem repetição, isso é mais do que normal.
Talvez essa produção argentina explicite isso um pouco mais, ou deixe escapar essa pegadinha que não se sustenta intacta por muito tempo. Dirigido por Sebastián de Caro, Matrimilhas entretém saudavelmente, sem contra indicações e ainda nos faz refletir (mais uma vez) sobre o casamento enquanto instituição, e a tal falência que todos já assumiram ter caído. O filme conta com um casal protagonista que vende carisma e talento, tem produção cuidadosa e diverte com facilidade. O problema, ainda mais do que percebermos a tentativa de golpe que estamos prestes a tomar, é que narrativamente o filme deixa uma quantidade acima do comum de pontas soltas, até não restar outra coisa a não ser lamentar – e comentar sobre tais.
Vejam o caso dos coadjuvantes de Matrimilhas. Os filhos do casal protagonista, por exemplo, ora têm importância e o roteiro ocupa-se de suas particularidades, ora são tratados como cabides sem vida. Isso não está presente apenas nesses personagens, porém o incômodo é maior com eles porque eles estão no centro da narrativa também. Além deles, existe o caso dos melhores amigos de Frederico, com o qual ele se encontra impreterivelmente todas as terças há anos e anos; como sua esposa nunca viu os rostos desses homens? Outra: por que Frederico tem uma mãe e a família de Belén sequer é mencionada? Ainda que a participação de sua mãe seja vergonhosa pelo espaço e função que ocupa, o protagonista o tem.
O que faz com os personagens, o roteiro também faz com a ação que eles deveriam se ocupar. Não faz muito sentido que o tal aplicativo seja seguido porque as ideias dele podem ser compreendidas e aplicadas fora dele com igual sucesso, e lá pelas tantas o filme deixa isso claro. Dito isso, falta a Matrimilhas explorar mais sua ideia, que parece jogada em um canto durante um bom tempo de projeção. Com isso, fica ainda mais clara a certeza de que trata-se de um gatilho de narrativa que não serve para muito coisa que não tentar renovar uma trama que é mais velha que o tempo. A eterna guerra dos sexos que já embalou alguns muitos roteiros para mostrar em fórmula ancestral, que ainda assim permanece crível, deixando claro o quão desnecessário era o argumento.
O filme também deixa de explorar o apagamento das expectativas de um casal, que a produção ilumina muito rapidamente e que segue interessando ao espectador. Com isso, os sonhos individuais são desvalorizados em detrimento de uma lógica conjunta, que apaga a personalidade de cada um. Não há mais a vontade de embarcar em uma nova profissão, nem o intuito de diversificar sua própria área; Matrimilhas pincela muito e resolve pouco. O público segue sem entender como tantas forças interessantes preferiram ser esquecidas pela narrativa a contribuir para a discussão.
Luisana Lopilato e Juan Minujin contrabalançam o quadro final com sua presença animada. O casal convence como os pilares de uma família que começa a ruir, e todas as cenas que mostram o choque de realidade (para o espectador) a respeito da relação do casal são muito bem escritas. Eles demoram a verbalizar o que sentem, e não precisa muito; sabemos o que está incomodando Frederico, e sabemos os motivos das queixas de Belén. O filme incrementa à esse casal uma rotina muito palpável sobre a questão afetiva entre eles, que vão perdendo aos poucos. É um trabalho que, conjuntamente, acaba ajudando Matrimilhas a não sair tão derrotado do quadro geral, em que pesem todos os problemas.
Um grande momento
O assalto
Não assisti ao filme ainda, mas já é possível ver nas entrelinhas do trailer que o autor tenta mostrar que de certa forma é o que falta para o casal. A troca de amor e realização de desejo um do outro. Só mostra a realidade que “somos vasos vazios que precisam ser preenchidos” mas esse vazio só preenche de verdade com amor verdadeiro (luz) e não com amor falso (sombra). Num determinado momento eles se reencontram, mas no fim o ego de cada um é mais forte de receber do que doar, e a lei da vida é assim, devemos doar sem esperar. E quando isso não é de coração, de amor de verdade, vira um pandemônio! É como se o feitiço virasse contra o feiticeiro.