Crítica | Festival

Twinless

Incompletude

(Twinless, EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: James Sweeney
  • Roteiro: James Sweeney
  • Elenco: Dylan O'Brien, James Sweeney, Lauren Graham, Aisling Franciosi, Tasha Smith, Chris Perfetti
  • Duração: 100 minutos

As primeiras cenas de Twinless apontam para o drama familiar, com todos reunidos em um cemitério se despedindo de Rock, que acabara de morrer atropelado. Caixão, flores e lágrimas contidas trazem tudo aquilo que já foi visto tantas vezes. A tragédia, porém, vai dando lugar a um estranhamento durante os cumprimentos. Na inquietação do modo como James Sweeney filma e constrói seu longa está uma história sobre a perda de um irmão gêmeo, mas especificamente sobre a perda de si mesmo quando esse outro, que é metade da sua identidade, deixa de existir.

A ideia é provocativa na forma e no conteúdo. Assinando direção, roteiro e ainda protagonizando o filme como Dennis, um gay ácido, ele costura uma história que se recusa a ser quadrada. Ao seu lado, em contraponto, está Dylan O’Brien, astro teen de Teen Wolf e Maze Runner que acabou marcado pelo papel e subestimado pela indústria. Ele vive dois gêmeos opostos: Rocky é todo extroversão, ironia e carisma, enquanto Roman carrega aquele vazio silencioso que se transforma em raiva. Tragicômico, thriller, comentário sobre masculinidade tóxica e até um bromance reverso, Twinless é tudo ao mesmo tempo.

Além das atuações, o filme se define pelo desconforto que provoca, sem deixar de ter um humor muito específico. A montagem nervosa, a trilha minimalista de Jung Jae-il, os planos opressivos criam uma atmosfera onde tudo parece prestes a explodir. Sweeney sabe trabalhar com essa angústia, e usa isso para escancarar as contradições da masculinidade, a solidão queer e a ilusão da autossuficiência. Em certo momento o filme parece flertar com o suspense, em outro pisa fundo na comédia, mas, no fundo, o que ele constrói é uma daquelas experiências difíceis de rotular.

Mesmo que algumas soluções funcionem mais pela surpresa do que pela coerência narrativa, Twinless mantém sua energia. Ele não quer agradar, quer cutucar. E se na superfície é sobre luto, nas entrelinhas é sobre a necessidade desesperada de encontrar o seu lugar no mundo, mesmo quando tudo o que resta é uma versão deturpada desse pertencimento.

Um grande momento
Eu sou o Roman

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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