(Beauty and the Beast, EUA, 2017)
Vou ter que começar esse texto pedindo licença ao leitor para contar a minha história com A Bela e a Fera da Disney, aquela lá de trás, a animação. Eu tinha 18 anos e uma filha de seis meses quando o filme estreou nos cinemas brasileiros. Resumindo, foi o primeiro filme que vi com ela – que não atrapalhou a sessão de ninguém – numa sala de cinema.
Além disso, era seu filme favorito quando começamos a montar sua filmoteca, com fitas de VHS ainda. Ela via sem parar, num rebobinar e recomeçar infinito. Sabíamos as músicas e as falas decor, e vimos a versão teatral, on ice, musical. Ou seja, são 25 anos de A Bela e a Fera da Disney nessa história.
Obviamente, tudo isso compromete, muito, a minha avaliação do filme em live-action lançado agora pelo estúdio. Podia ter dado muito errado e ter virado uma grande frustração, como os primeiros trailers deram a entender, ou podia ter conseguido despertar a nostalgia de tudo isso aí de cima e fazer da experiência algo muito especial. Foi isto que aconteceu.
Vou tentar aqui distanciar tudo isso para falar do filme, mas avisando, de antemão, que posso fracassar aqui e ali, pois o filme que vi tem toda essa carga emocional que é impossível de ser ignorada.
Bastante fiel à animação de 1991, com inclusões pontuais de sequências do musical da Broadway e trechos mais próximos ao conto de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, o longa-metragem é o tipo de produto pensado e produzido para fãs. Figurinos, cenografia e canções trazem o desenho de volta à mente do público instantaneamente.
Atualizações e mudanças inseridas vieram para somar. Não há mais uma raça única em tela e nem mesmo uma única orientação sexual. Bela, que já era uma mulher forte no desenho, está ainda mais empoderada aqui.
Porém, nas alterações estão também os problemas. Há uma tentativa de construir uma nova personagem de destaque, que não funciona e não faz muito sentido quando se analisa a fundo sua função na trama. Mas não é nada que possa ser falado sem espalhar spoiler da única parte ainda não vista do filme.
A Bela e a Fera consegue atingir o seu principal objetivo: usar a magia de seu antecessor e toda sua carga nostálgica para envolver aqueles que já conhecem a animação. Bela, aquela figura já íntima do público, que não se adequa à cidade pequena onde vive e quer começar a viver, agora está ali em carne e osso, sendo ainda diferente e ousada para seu tempo.
Há toda uma metáfora de rito de passagem por trás da história, assim como uma confrontação implícita dos papéis e lugares da mulher, como dona de seu destino e fazedora de sua sorte. E é justamente aí que está a força do conto animado, que chega ainda mais incisivo em sua versão em live action.
O característico cuidado da Disney com todos os detalhes de suas adaptações pode ser percebido com clareza. Emma Watson está muito bem como Bela, com uma atuação discreta e ao mesmo tempo convincente, o que também pode ser dito do príncipe, que tem a seu favor o fato de não depender tanto de suas expressões faciais. o filme conta ainda com as vozes, pelo menos em maior parte do tempo, de Ewan McGregor, Ian McKellen e Emma Thompson somando ao resultado final.
Porém, quem chama mesmo a atenção e a dupla Luke Evans, como Gaston, e Josh Gad, como LeFou. Gad, embora seja o menos conhecido do elenco, é experiente em musicais e recentemente dublou Olaf, o boneco de neve do sucesso Frozen. Seu LeFou é uma das melhores coisa da adaptação.
No mais, A Bela e a Fera é pura nostalgia e deleite para os que já têm uma história com o filme e vão, com certeza, se emocionar com o que veem. Pelo menos é o que eu, completamente comprometida para me posicionar, acho. Ou seja, nada que possa ser levado em tanta consideração assim.
Um Grande Momento:
Evermore.
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