(A História da Eternidade, BRA, 2014)
Direção: Camilo Cavalcante
Elenco: Marcelia Cartaxo, Leonardo França, Débora Ingrid, Claudio Jaborandy, Zezita Matos, Maxwell Nascimento, Irandhir Santos
Roteiro: Camilo Cavalcante
Duração: 121 min.
Nota: 8
Puro deleite visual. Em seu primeiro longa, o diretor pernambucano Camilo Cavalcante traz à telona toda sua habilidade em construir poesias com imagens. Toda a facilidade de lidar com o audiovisual, já demonstrada em sua filmografia de curtas-metragens pode ser percebida em cada um dos segundos de A História da Eternidade.
O filme tem o mesmo nome de um de seus curtas, de 1993, e a relação entre os dois pode ser percebida logo nos primeiros momentos de projeção. Ambos tratam da perenidade, da característica cíclica da vida. Enquanto no curta-metragem o ciclo se iniciava e encerrava em si mesmo, agora, três histórias tem seus encerramentos, mas não sua conclusão.
Muito bem cuidado, o visual do filme é impressionante. Camilo e seu diretor de fotografia, Beto Martins, não poupam na alternância de luz de sombra e constroem um sertão diferente, mais próximo de seus habitantes, e perfeitamente perceptível aos espectadores, mesmo aqueles que nunca lá estiveram.
O cuidado na concepção do conjunto também chama atenção. Juntamente com a fotografia, a montagem dá o ritmo do filme, a trilha é orgânica, a arte é sutil e a direção dos atores é coerente e precisa. Nada parece estar deslocado ou ser desnecessário.
No elenco, Irandhir Santos, que está na maioria dos filmes nacionais de arte lançados neste ano, dá vida a um de seus personagens mais significativos. Sem exageros, mesmo que pudesse partir para esse lado. A sensibilidade do ator e do personagem se complementam. Cláudio Jaborandy, mesmo criando mais um personagem repulsivo, tem momentos de arrependimento e sensibilidade que também chamam a atenção.
Mas o filme não é dos personagens masculinos. Extremamente feminino em sua concepção, A História da Eternidade valoriza os papéis das três protagonistas. Zezita Matos, Marcélia Cartaxo e Débora Ingrid transmitem toda o desejo e a culpa de suas personagens, em atuações também precisas.
É sobre todo esse desejo e a culpa, dele derivada ou não, que Cavalcanti quer falar. O sertão e seu isolamento, a influência da igreja católica, o machismo, a vida que segue regras de um tempo que parece não ter passado e mantém estruturas diversas. Mas que interage com sentimentos e vontades que são imanentes ao ser humano, onde quer que ele esteja.
Mais do que uma senhora experiência estética, o que fica de A História da Humanidade é uma profunda reflexão sobre a humanidade. Coisa que Camilo já faz com o público há muito tempo com seus curtas.
Um Grande Momento:
“Fala”
[38ª Mostra de São Paulo]
Links
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