Cinema em linhas

Adeus a um ídolo

Eduardo-coutinho

Domingo, dia de ir ao cinema. O filme da semana foi Quando Eu Era Vivo. Já estava com o caçula e minha mãe no Casa Park, shopping que abriga o Espaço Itaú de Cinema em Brasília, esperando a mais velha chegar. Ele se perdeu na seção de quadrinhos da Cultura, enquanto minha mãe olhava livros de arte. Meu telefone tremeu, quando fui olhar, um amigo me mandara o link de uma matéria que anunciava a morte de Philip Seymour Hoffman.

Abri o link e fui ler a matéria que contava sobre como o ator fora encontrado morto em seu apartamento. Fiquei triste. O cinema perdia um grande ator. Antes de terminar o texto, outra mensagem. Não cheguei a abrir, só li na minúscula parte superior as palavras: “Coutinho tb”.

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Me assustei e, sem terminar de ler sobre o americano, com um aperto na garganta fiz a busca na internet por Coutinho. O primeiro resultado da busca direcionava a uma matéria que contava sobre como o diretor brasileiro, um dos maiores e melhores do nosso tempo, havia sido assassinado. A história era terrível. Meus olhos encheram de lágrima. Como assim?

Conheci o cinema de Eduardo Coutinho há muito tempo, com o filme com Cabra Marcado para Morrer, mas foi Santo Forte que me conquistou. O filme, vencedor de um dos festivais de Brasília do final dos 90, foi aquele que fez olhar para os documentários de um jeito diferente, com muito mais disposição. E me fez prestar atenção de verdade em Coutinho, querer ver tudo o que tinha feito antes.

Dos que vieram depois, vi e gostei de Edifício Master, Peões, Jogo de Cena e Um Dia na Vida. Alguns deles me foram apresentados pelo próprio Coutinho, já que faziam parte de mostras e festivais. Ele estava ali na frente da tela prateada e eu sentada nas cadeiras dos cinemas sentindo aquela alegria que só os fãs sentem frente a seus ídolos.

Foi em uma desses eventos cinematográficos, na Mostra de São Paulo mais especificamente, que assisti ao documentário As Canções. Quando o filme acabou, estava emocionada. Sabia que ele estava no corredor da sala, esperando o longa acabar. Alguma coisa me fez levantar da cadeira e ir encontrá-lo durante os créditos. Olhei para ele e o abracei. “Muito obrigada”, eu disse. “Obrigada por tudo que você trouxe pra mim”. Ele me olhou, sorriu, e voltou a me abraçar.

Depois disso nos encontramos novamente, quando pude assistir novamente ao nunca lançado Um Dia na Vida, com mais uma apresentação memorável desse homem que fez tanto pelo cinema, de forma geral, e por minha cinefilia, de forma muito específica.

A Coutinho, mais uma vez, o meu muito obrigado por tudo. Que ele descanse em paz!

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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