- Gênero: Documentário
- Direção: Catarina Vasconcelos
- Roteiro: Catarina Vasconcelos
- Duração: 101 minutos
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A linguagem dos pássaros só se revela àqueles que não têm corpo
Palavras. Imagens. Sensações. Sentimentos. Em seu mergulho na própria história, Catarina Vasconcelos rima quadros, vê música e lê silêncios. Mais do que identificação, em seu filme A Metamorfose dos Pássaros, busca convergência entre a criação e resgate, ilustra memórias delicadamente e transfere sua propriedade.
Tu cortas o mato
eu corto os dias
Tu cortas saudade
e eu corto-te as fotografias
A precisão de Vasconcelos na composição da trama de imagens captura o olhar. Sua história, ou melhor, a de sua avó começa no encontro com Joaquim e a paixão, em um romance de ausências e muitos filhos. Velhos trechos de cartas, palavras reais e divagações reimaginadas narradas por diversas vozes, algumas vezes concomitantes, traçam o caminho para a relação materna, de Jacinto, de Catarina.
Tu encontrarás novas palavras
As palavras levar-te-ão a novos sentidos
E sempre que não te lembrares, inventa
Nessa busca, memórias reais e inventadas permeiam a narrativa. Se esteticamente está do lado oposto da ressignificação de imagens resgatadas, como em Meu Pretzel Mexicano, pois cria suas próprias ilustrações, está no mesmo lugar de lacunas preenchidas criativamente. Na complementação da palavra, mais do que imagens, gatilhos para devaneios associativos que vão num crescente por todo o filme.
E esta canção é só pra fingir
Quando estou a sós não me custa ter
a África entre nós
Vasconcelos brinca de encapar e colorir, ao mesmo tempo, de expor sentimentos e presenças em seu vaguear pela própria imaginação. Em sua poesia visual, encontra a cura para a ausência. Dela e de outros. Afasta-se para falar de si, apresenta-se para falar dos seus e conclui com a imagem de seu passado, de sua origem. Aquela que estará sempre com ela.
Fui com os pássaros, eles têm asas e eu preciso de um novo coração
Os pássaros e sua metamorfose do título estão nesse voar para se encontrar. A diretora se desloca entre espaços, da reencenação caseira à vastidão da paisagem, no céu, no mar, na terra, de detalhes cantados à definição visual de personagens. Acompanha de longe e se põe em cena. Num aproximar-se e afastar-se constante, que aprofunda percepções e sentimentos. Há luz, há espaço, há tempo, há conexão.
Não deu os olhos à paisagem, mas sim a Beatriz
Aquele é o universo de Catarina, universo do qual ela se aproxima e, de certo modo, abre mão. Assim que o coloca na tela, desprende-se, liberta-o, e aquela paisagem, aquele retrato de sua Beatriz, passa a pertencer a ninguém e a todos. E, assim como Jacinto, quando o vemos, damos-lhe nossos olhos. E que maravilha é poder fazer isso.
Um grande momento
“Joaquim”