Crítica | Streaming e VoDDestaque

Pedido Irlandês

Veículo para o desastre

(Irish Wish, EUA, IRL, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia Romântica
  • Direção: Janeen Damian
  • Roteiro: Kirsten Hansen
  • Elenco: Lindsay Lohan, Ed Speleers, Alexander Vlahos, Elizabeth Tan, Ayesha Curry, Matty McCabe, Jacinta Mulcahy, Maurice Burn, Dawn Bradfield, Jane Seymour
  • Duração: 88 minutos

Assim como Adam Sandler, Guillermo Del Toro, David Fincher, Jennifer Lopez e alguns outros, Lindsay Lohan também fechou contrato com a Netflix para realizar um pacote de filmes. O primeiro já tinha chegado até nós há dois anos, Uma Quedinha de Natal, e era o prenúncio de que poderíamos estar diante de um desastre em capítulos; pois bem, quem também teve essa impressão, saiba que você estava certo. A estreia de Pedido Irlandês prova que o streaming consegue o que quiser, quando tem as armas de marketing certas, inclusive promover algo quase desprovido de qualquer qualidade. Os motivos não param de surgir durante o filme, mas a sensação de absoluta irrelevância do qual somos testemunhas durante a breve duração talvez mostre como algo precisa ser feito. Em nós. 

Meu trabalho como crítico não deveria ser (e continuará não sendo) desaconselhar qualquer leitor a se afastar de uma obra, por qualquer que seja o motivo. Primeiro, porque filmes são feitos com um propósito, que nem sempre se adequa com a visão do analista; segundo, porque o crítico de cinema precisa dialogar com a obra, e criar uma ponte de entendimento entre o público final e a intencionalidade das imagens produzidas. Pois bem, e quando não há qualquer possibilidade de analisar algo, por se tratar de um produto tão desligado de algo inerente ao cinema, como provocação e textura? Pedido Irlandês é desprovido do mínimo que poderíamos esperar do Cinema, que é nos transportar para uma realidade que não é a nossa. 

Passando bem longe do que poderíamos debater acerca de algo que o leitor e o cinéfilo gostar muito, que é decidir ‘melhores’ e ‘piores’, Pedido Irlandês não tem qualquer pretensão de ser o mais baixo patamar que a Netflix chegou em 2024 – ninguém segura Mea Culpa. Mas incomoda particularmente ver um produto tão conformado em não ter qualquer mínimo lastro de identidade, e não é nenhuma surpresa descobrir que o filme é “dirigido” pela mesma responsável do filme anterior de Lohan, Janeen Damian, em seus dois primeiros filmes. Olha, quem me acompanha aqui no Cenas de Cinema nos últimos 4 anos, sabe que existe no site uma investigação saudável em torno do streaming, e que eu não canso de tropeçar em cima de filmes absolutamente irrelevantes, estética e narrativamente, todos os meses. 

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Dito isso, raras são as vezes onde algo chega de maneira tão inerte para o espectador. O carisma de Lohan continua imbatível, e ela tem dois atores interessantes ao seu lado, Ed Speleers (de Contra o Gelo) e Alexander Vlahos (basicamente um ator de séries de tv, entre elas Outlander). Ou seja, o triângulo amoroso tem alguma mínima bossa, embora o filme nunca esconda que se trata de um exemplar pudico; isso no ano do estouro de Todos Menos Você é de um atraso incomum. Mas nada sustenta a milionésima trama onde uma história de amor é entrecortada pela magia, que invade o cenário para mostrar para a protagonista como se faz desejos mal. É tosco na execução mas também já era na concepção, isso sem contar a forma como o filme esbarra em muitos tipos de machismo. 

Aliado a essa construção desinteressante e nada inspirada, Damian nunca sequer tenta elaborar algo para tirar o filme desse lugar onde nada do que é apresentado comunica a uma substância qualquer. É injusto declarar que filmes leves podem existir e que não precisam ter arrojo cinematográfico para serem produzidos. Sim, os filmes não precisam responder a grandes questões do universo, ou ter o cuidado que gênios como Scorsese e Almodóvar conseguem. Mas seria justo entregar como escapismo ao público que apenas quer relaxar algo vazio em todos os segmentos? Primário em muitos aspectos, Pedido Irlandês talvez prove apenas que sua protagonista está imune a desastres, mas isso nem deve ser considerado um mérito. 

O que resta então para Pedido Irlandês não ser uma nulidade? Bom, nada. Mas, vai que o leitor se encontra em um dia muito preguiçoso, ou seja fã de Lindsay Lohan, ou não viva sem comédias românticas… opções não faltam. Já ao filme, falta muita coisa. Suas lições e moral da história já foram vistos em todos os lugares, sua mecânica funciona muito melhor com outros porta-vozes, e eu digo que esse não sumirá da nossa cabeça em um mês não. Muito antes disso, o filme já terá desap

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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