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A Rosa Venenosa

Porque só cinefilia não basta

(The Poison Rose, ITA, EUA, 2019)

  • Gênero: Suspense
  • Direção: Francesco Cinquemani, George Gallo
  • Roteiro: Francesco Cinquemani, Luca Giliberto, Richard Salvatore
  • Elenco: John Travolta, Morgan Freeman, Brendan Fraser, Famke Janssen, Ella Bleu Travolta, Robert Patrick, Peter Stormare, Kat Graham, Blerim Destani, Devin Ellery, Julie Lott, Frank Renzulli, Drew Ater, Nick Vallelonga, Chris Mullinax, Melissa Greenspan, Nadine Lewington
  • Duração: 98 minutos
  • Nota:

Bastam alguns minutos para que se perceba onde estamos nos metendo quando resolvemos assistir à A Rosa Venenosa. O arremedo de noir protagonizado por John Travolta, com Morgan Freeman, Brendan Fraser e Famke Janssen no elenco, vai buscar a estrutura para lá de conhecida do gênero que marcou o cinema nos anos 1940 e 50 e a transfere para os anos 1970. A salada cafona e confusa até encontra o interesse aqui e ali, mas muito mais pela patetice do que pela qualidade do enredo saído da cabeça de George Gallo, Francesco Cinquemani e Richard Salvatore. 

Enquanto os dois primeiros assinam a direção, cargo onde nunca foram exatamente bem-sucedidos, o terceiro restringe-se exclusivamente ao roteiro. Fato é que os três são cinéfilos, Salvatore produziu alguns títulos, mas sem nenhum big hit no currículo, e Gallo escreveu alguns roteiros interessantes no passado. Há uma aura ultrapassada, justamente deste tempo de “glória”, que permeia todo o filme. É como se ele tivesse sido feito há uns 30 anos atrás pelo menos, algo bem destacado na abertura para lá de brega.

A Rosa Venenosa

Os personagens seguem um padrão e os atores, que não Travolta e descendentes (a filha dele, Ella Bleu Travolta, fraquíssima, também está no filme), não parecem muito esforçados em entregar muito mais do que o básico. Não que não se divirtam com aquilo que estão fazendo. Todos transparecem gostar da brincadeira de voltar no tempo, principalmente Freeman, que zomba até mesmo do jeito como seu Doc, o mafioso dono da cidade, come uma salada. Esse clima traz um certo constrangimento àquilo que se apresenta, pois deixa a impressão de que enquanto uns estão no modo “tanto faz” há todo um esforço de produção no sentido oposto.

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Apesar dos pesares, o suspense meio sem jeito, que mistura retorno à cidade natal, desaparecimento de pacientes em manicômios, apostas ilegais, traições matrimoniais, tráfico de drogas e futebol americano, vai seguindo de maneira não dolorosa, pelo contrário, se beneficia do humor involuntário de certas sequências. O roteiro de A Rosa Venenosa é chegado a absurdos e não economiza em novos personagens e eventos que vão se amontoando até não fazerem sentido algum. Gallo, Cinquemani e Salvatore querem juntar em um mesmo filme tudo aquilo que acharam interessante em outros: o detetive particular, o mafioso calculista, o psiquiatra perturbado, o jogador de futebol degenerado, o xerife corrompido, a paciente que tem todas as informações, e por aí vai.

A Rosa Venenosa

É tanta coisa que não há como construir todas as conexões necessárias e a trama, já problemática de partida, vai se perdendo cada vez mais. O final é uma confusão que chega a milímetros da falta de sentido e algumas sequências são completamente vergonhosas, como quando os diretores parecem ter descoberto os “incríveis” efeitos gráficos de vidros se quebrando ou a cena familiar do café da manhã com donuts. Como em uma série que durou tempo demais, vários personagens têm desfechos instantâneos e outros são simplesmente esquecidos.

A Rosa Venenosa, que conseguira estabelecer uma relação pela inércia com o espectador, agora depende do esforço em busca de alguma vontade de permanecer diante daquilo. Não que tenha sido bom em algum momento, mas nunca fora tão ruim. No final das contas, são 98 sem proveito, o típico exemplo de um filme fruto da cinefilia genuína, que não encontra a habilidade necessária. Todas as referências estão ali, mas nem sempre casam, fazem sentido ou deveriam ser tão literais. Além disso, você pode ter atores bons, medianos ou fracos, a direção deveria ser a responsável por equalizar isso em cena e não omissa. Uma boa montagem também não faria mal. A intenção não era de todo ruim, mas não deu certo, não.

Um grande momento
Conhecendo Geraldine

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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1 Comentário
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Alexandre Marcello de Figueire
Alexandre Marcello de Figueire
04/06/2022 20:52

O filme é tudo aquilo que já estamos cansados de assistir.

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