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Animais Corporativos

Quando o excesso faz falta

(Corporate Animals, EUA, 2019)

  • Gênero: Terror
  • Direção: Patrick Brice
  • Roteiro: Sam Bain
  • Elenco: Demi Moore, Jessica Williams, Ed Helms, Karan Soni, Dan Bakkedahl, Isiah Whitlock Jr., Jennifer Kim, Martha Kelly, Calum Worthy, Nasim Pedrad
  • Duração: 86 minutos
  • Nota:

De cara, Animais Corporativos parece tão bagunçado e informal que só pode ser algo proposital. Sua apresentação desengonçada, sem elos de ligação entre o que apresenta, sem distribuir os personagens, parece surpreender a narrativa e inserir o espectador em um universo já previamente organizado – na verdade esse é o ponto de estruturação do filme, invadir sua atmosfera já delineada no extracampo para que sua conjuntura seja assimilada. Esse mergulho inesperado naquele grupo de personagens assusta a princípio pela falta de intimidade que temos com o todo, mas aos poucos percebemos sua utilidade para a produção.

O diretor Patrick Brice tem experiência na união de gêneros cinematográficos através do duo de filmes Creep, ambos estrelados pelo psicopata vivido por Mark Duplass e amplamente aplaudidos pela crítica. De proposta menos densa, Brice sai do controle que exercia sobre um painel tão fechado de amostragem do terror e da sociopatia, com uma abordagem já reconhecível, para essa proposta igualmente ambiciosa porém de textura menos segura; trata-se de um projeto onde o relevo de um grupo maior de pessoas se faz necessário, com um amplo olhar para o universo trabalhista e as relações de poder descontroladas.

Animais Corporativos

Com a estrutura concebida, o roteiro de Sam Bain (o homem por trás de Duas por Uma) segue o padrão de intercalar ação ao relevo de personagens gradativamente, e a proposta não é sempre bem sucedida. Em parte porque todos se parecem estereotipados e carentes de intenções, em parte porque tudo parece se suceder muito rápido, sem conseguir tempo para envolver cada um dos tipos nas situações sob o qual eles se envolvem posteriormente ao plot do enredo, em tempo hábil pouco capaz de provocar tamanha sucessão de tragédias e descobertas constantes, que acabam por se acumular.

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Quando toda a trama é posta na mesa, a impressão de excesso nunca deixa o filme descansar. Seja pelo tempo corrido onde a ação se concentra que é apresentado a todo momento, seja por todos os elementos arremessados na produção com o passado de seus integrantes, seja pela vontade ininterrupta de transformar a situação insustentável onde se encontram em palco de soluções cômicas impensáveis que saem dos trilhos vez ou outra (e acabam dando o sabor diferenciado da produção), Animais Corporativos parece ter receio desses mesmos excessos que propõe, e temos um claro caso de covardia narrativa, com um filme que avança e retrocede em suas curvas.

Animais Corporativos

Se o elenco ao menos acerta na disposição em interagir uns aos outros, sempre demonstrando traquejo entre si, mas não consegue esconder suas vocações para serem marionetes de uma porção carregada de eventos, ao menos uma escalação é um acerto absoluto. Demi Moore não está a toa no filme, mas praticamente aqui parodia seu espaço em Assédio Sexual, filme de 94 dirigido por Barry Levinson e hoje praticamente esquecido, mas que foi um hit à época. Lá, sua Meredith Johnson usava todos os seus atributos para infernizar a vida de Michael Douglas; aqui, a vítima é vivida por Karan Soni, e Demi demonstra estar em plena forma para retomar sua personagem de maneira ainda mais grotesca que a do passado. Pra quem conferiu o filme dos anos 90, a presença da atriz aqui é por si só muito especial.

Apesar de descompromissado e de nunca deixar de entreter, Animais Corporativos deixa no ar a impressão de que suas intenções foram podadas, e que se sua gênese radical fosse respeitada, uma joia poderia ter surgido com muita anarquia. A sessão que resta é a de um filme que nunca alcança um tom único, preferindo ciscar em várias intenções sem ter uma cara definida ou uma personalidade apresentável, ainda que cenas como a que toca “Toxic” de Britney Spears mostre que todos sabiam onde podiam chegar, era só chafurdar mais o pé na picardia.

Um grande momento
“Obrigado, Gary Sinise”

Ver “Animais Corporativos” no Telecine

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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