- Gênero: Animação
- Direção: Daniel Ojari, Michael Please
- Roteiro: Daniel Ojari, Michael Please, Sam Morrison
- Duração: 32 minutos
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A Aardman é um estúdio de animação britânico especializado em stop motion. Da mão deles, saíram grandes obras nos últimos anos, tais como A Fuga das Galinhas (cuja continuação parece que finalmente está saindo), Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (e toda a obra envolvendo os personagens), Shaun, O Carneiro, e tantos outros. A regularidade da empresa impressiona principalmente por não ter o arsenal monetário que uma Pixar tem, ainda assim conseguindo sempre impressionar com seu misto de beleza, criatividade e diversão. A Sabiá Sabiazinha, favorito ao Oscar na categoria curta metragem de animação em cartaz na Netflix, é mais um capítulo de uma saga vencedora dos seus criadores.
Daniel Ojari e Michael Please dirigem e roteirizam (ao lado de Sam Morrison) esse conto infanto-juvenil que versa sobre temas que o sindicato dos curta metragistas insistem em defender, com razão: o processo de aceitação entre os que são marginalizados em sua condição primal. Como se trata de uma produção que vai englobar o interesse de um grupo elevado de espectadores, e como está disponível na maior plataforma de streaming da atualidade, a mensagem ultrapassa a validade. É necessário que estejamos continuamente batendo em teclas como a da empatia, do afeto, do cuidado que devemos ter conosco e em como é possível se olhar no espelho e ver beleza.
A sabiá do título é um passarinho que foi adotado sem querer e criado por uma família de camundongos, sem traçar diferença de tratamento entre seus integrantes. Ela cresce sem atentar às diferenças que existem entre os seus, e vice-versa, mesmo que suas disposições aos hábitos comuns sejam diferentes em realização. Quando o roteiro então explicita a distinção entre as espécies, o filme não parte para a melancolia, mas para a tentativa de compreender esse espaço de dissenso entre a realidade que ela não se dava conta e essa nova. É quando o filme insere a reflexão verídica dentro de uma fábula contada através de bonecos de pano e nos aproxima de questões prementes do hoje.
Os diretores constroem um universo claramente inteligível para toda a família sem deixar de situar extrema criatividade estética ao material, conjugando beleza e praticidade a um projeto tão carinhoso. Existe um detalhamento muito grande (reparem na direção de arte das casas, mais especificamente no esconderijo de Magpie, um personagem que permite um comentário breve mas incisivo sobre acumulação) na direção de arte e na montagem, que acaba por construir em apenas meia hora momentos de tensão e sequências muito movimentadas. Todos os embates entre a sabiá e a gata são carregados de possibilidades que remetem ao cinema de gênero mais direto, e são a prova da dedicação de seus profissionais em elevar sempre seu resultado final.
A Sabiá Sabiazinha, ainda que não elenque novidades narrativas em sua trajetória, ainda assim consegue encantar com a infinidade de camadas que sua mise-en-scène guarda para seu acabamento técnico. Mesmo tendo em vista que se trata de um produto destinado preferencialmente aos pequenos, nem os paternaliza e muito menos os diminui, entregando uma realização inferior. Sua delicadeza ao tratar o abraço às diferenças, aliada ao refinamento que seus profissionais dedicam ao curta, são suficientes para encher olhos e ouvidos de quem vencer o preconceito e encarar seu sutil abraço ao ato contínuo de agregar novas chaves de entendimento ao próximo em nossas vidas.
Um grande momento
A sabiá e a gata no galpão