Crítica | Streaming e VoD

A Última Carta de Amor

Romantismo à moda antiga

(The Last Letter from Your Lover, GBR, 2021)
Nota  
  • Gênero: Romance
  • Direção: Augustine Frizzell
  • Roteiro: Nick Payne, Esta Spalding
  • Elenco: Shailene Woodley, Felicity Jones, Emma Appleton, Joe Alwyn, Callum Turner, Ben Cross, Vilhelm Blomgren
  • Duração: 110 minutos

Histórias de amor clássicas talvez sejam exatamente o que o mundo está precisando atualmente, diante de tanta disseminação do ódio e de um mundo tecnológico que mais afastou as pessoas que uniu. Jojo Moyes já escreveu várias delas, todas em iguais teores de emoção, sempre encantando um número crescente de leitores e cinéfilos, e a mais conhecida delas talvez seja Como Eu era Antes de Você, pelo menos até agora. A Netflix acaba de lançar a adaptação para A Última Carta de Amor, e o filme parece aportar no momento certo para dar ao mundo mais uma dose de sentimentos analógicos para suplantar uma modernidade que não sabe lidar com o coração.

Além de tudo, é uma produção que lida com troca de cartas, com o amor sendo reverberado na palavra escrita e a mesma seja vista como prova concreta de um sentimento que venceu a barreira do tempo, ou seja, nada poderia ser mais clássico hoje que um sentimento construído por documentos que venceram a história e um possível “deletar de conta”. A história que nasce entre a sra. Stirling e o jornalista Anthony O’Hare (ou simplesmente J. e Boot), tão delicadamente construída no passado, atrai os jovens Ellie e Rory no presente pelo magnetismo do verbo, o mesmo fator que seduzirá o espectador.

A Última Carta de Amor
©Parisa Taghizadeh/Netflix

Na verdade, trata-se de uma trama tão clássica quanto atemporal no cinema – mulher casada com um homem que não a valoriza se apaixona por quem o faz. É uma premissa presente em tantos livros e filmes que a conta já foi perdida, mas quando há um tratamento minimamente adequado, tudo volta a funcionar. O filme é dirigido pela jovem Augustine Frizzell, que dirigiu o piloto de Euphoria e aqui consegue dosar quantidades suficientes de romantismo de época sem destratar as gerações atuais, ao mesmo tempo que não soterra o filme com um saudosismo datado; tudo o que o filme quer dizer nas entrelinhas é aplicável ao nosso tempo, além de feito com suavidade.

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O filme aborda duas histórias correndo paralelamente, a situada em 1965 onde o casal de amantes planeja um futuro de liberdade e a contemporânea, onde uma jornalista encontra as cartas que o Anthony enviava para sua amada – ou seja, também esse recurso já foi utilizado. E, assim como anteriormente, uma história se sobrepõe a outra em interesse, por ser mais bem construída, com mais carisma e um maior debruçamento mesmo do roteiro. Ainda que a história dos dias atuais tenha um certo charme, o filme não se interessa muito por ela (vide o passado dos protagonistas desse segmento ser revelado em menos de cinco minutos durante uma festa) e quase todo o tempo de duração e a beleza do longa se concentra no casal romântico adúltero.

A Última Carta de Amor
©Parisa Taghizadeh/Netflix

Essa qualidade se dá pela condução imagética da sua trama, que envolve o casal em direção de arte, figurinos e fotografia de qualidade inegável, que eleva a produção mas também mergulha o espectador no clima acertado para aceitar seu universo. O trio de atores envolvido nesse segmento é então a cereja do bolo para que o filme funcione a perfeição; Joe Alwyn (de A Favorita) faz o perfeito marido da época, castrador e ausente, enquanto Shailene Woodley (de A Culpa é das Estrelas) e Callum Turner (de Emma.) tem a química perfeita e consegue nos emocionar com seu amor proibido pela força das circunstâncias.

A Última Carta de Amor ainda entrega uma mensagem muito bem vinda para os tempos de aplicativos de relacionamentos e romances líquidos, ainda que também ela não tenha nada de original: nunca é tarde para tentar mais uma vez, quando se tem certeza do que se sente. Emocionando e envolvendo à moda antiga, esse novo acerto da Netflix até poderá ser esquecido daqui há um mês, mas enquanto é assistido toca fundo em um público que não acredita em nada além do próximo match, da próxima promessa vazia do whatsapp, da nova paixão não correspondida do mês; pode ser a mensagem suficiente para fazer o espectador dar uma nova chance a alguém.

Um grande momento
O primeiro beijo

Parisa Taghizadeh

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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