- Gênero: Comédia
- Direção: Marcos Jorge, Macelo Botta
- Roteiro: Marcelo Botta, Marcos Jorge, Gabriel Di Giacomo
- Elenco: Paulinho Serra, Raul Chequer, Leandro Ramos, Felipe Torres, José Loreto, Alexandre Rodrigues, Cris Viana, Nicola Siri, Dudu Oliveira, Bella Tortato, Isabella Santoni, Wellington Muniz, Nathaly Dias
- Duração: 90 minutos
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A ideia envolvendo Abestalhados 2 é toda tão excepcional, há uma premissa tão excitante por trás do filme, que corria o risco do filme ‘entrar de salto alto’ na tentativa de conquistar o grande público. No jargão futebolístico, isso significa autoconfiança extrema, que não costuma gerar bons resultados; ao invés disso, o resultado pode ser desastroso. Pois bem, o potencial que o filme tinha não é plenamente aproveitado, no equilíbrio entre a direção e o roteiro. Temos consciência do potencial do material, está tudo aparentemente no lugar para dar certo, mas o que acontece não tem a ver com os elementos conhecidos em elenco e direção, mas algo que saiu do esquema independente dos talentos individuais. O excesso de confiança provavelmente atrapalhou o projeto.
O filme parte de direção e roteiro da dupla Marcos Jorge e Marcelo Botta (no roteiro, ainda entra Gabriel Di Giacomo). O primeiro é o diretor do celebrado Estômago, o segundo é responsável por programas da categoria de Adnet Ao Vivo, Furo MTV e Trolalá. Ou seja, sobram talento, ‘timing’ cômico e excepcional condução, de cenas e atores. Tinha tudo para dar muito certo, e de alguma forma até conseguimos ver os resultados de ações positivas, mas o todo de Abestalhados 2 soa acanhado, quase tímido, ou pedindo licença para poder ser engraçado. A falta de decoro faz parte do que se vende como comédia popular, e aqui vemos toda a produção se sentindo desconfiada em relação ao que precisa entregar para ser devidamente reconhecido.
Com produção elaborada, uma ideia ousada e cheia de picardia, e um elenco que banca tudo que se imagina, Abestalhados 2 tem gastos acima da média, para uma comédia brasileira. Repleta de ação, a produção não se apequena diante dos valores estéticos que emprega, o resultado de tanta entrega está na tela, impresso. Mas nenhuma dessas questões livram a produção de perceber um crime crucial para uma comédia. Tão preocupados estão em parecer modernos, em desenvolver a criatividade de sua premissa, em apresentar de maneira charmosa seu material, que o filme parece ter esquecido de ser mais engraçado do que poderia. Em muitos momentos, a produção considera essa questão menos importante do que contar bem sua história. As inserções documentais é um belo exemplo disso; é um caco repetido, que já vimos com frequência cada vez maior em comédias, mas que existe para amarrar o roteiro, acabando por se transformar em uma ideia muito legal… mas não necessariamente engraçada.
Então temos um impasse: a história de Abestalhados 2 é fluida, bem cadenciada, o roteiro desenha muito bem seus quatro personagens centrais, até com clichês, mas isso não é um problema. O filme é bem produzido, mesmo seus coadjuvantes e participações especiais fazem sentido e tem razão de existir. Em contrapartida, o filme parece tenso em se moldar de maneira excelente, essa preocupação é clara e eles fazem de tudo para executá-la com esmero, e isso reflete em seu resultado enquanto produto de comédia, ainda mais popular. Mesmo que seus atores venham de uma escola invejável de humor – e que inclusive enquanto atores sérios, fiquem claros seus predicados – ele não conseguem fazer valer essa comicidade o tempo todo, porque o filme está centrado demais em fazer tudo certo.
Nesse sentido, mesmo seus momentos de descontrole parecem minimamente ensaiados. Não digo que o filme pareça posado ou engessado, mesmo artificial, inclusive seus atores têm excelente ‘timing’. Mas a ideia central, original e abusada, não se sustenta o tempo inteiro, por faltar explosão, e principalmente faltar à direção uma despirocada que é essencial ao gênero. Abestalhados 2 talvez sofra de um mal estranhíssimo para uma análise assumir: é um produto de apelo popular estranhamente cerebral. Sua verve se encontra em momentos muito específicos – as cenas que a equipe precisa rodar as passagens com José Loreto e Alexandre Rodrigues são as melhores do filme, sem dúvida – e não está alargada por toda a produção, que por isso acaba sofrendo uns vácuos de interesse.
No fim das contas, assistir a Abestalhados 2 é uma experiência ambígua, mas o saldo é positivo, de alguma maneira. Reside prazer, e nem é pouco, em acompanhar a energia de Paulinho Serra, Raul Chequer, Leandro Ramos e Felipe Torres, que tem química aos quilos e conseguem nos fazer acreditar em cada frase dita. Difícil inclusive dizer qual o melhor, porque é um quarteto dos sonhos de verdade. Mas eles independem da produção como um todo, que parece não servi-los de melhores momentos; esses grandes momentos parecem servidos pelos próprios, dando vida a diálogos que não são os melhores, mas que eles realçam. É pouco para uma produção que ambicionava mais, claramente, mas é muito para uma produção que frequentemente nos entrega produções muito inferiores. O jogo empatou.
Um grande momento
José Loreto encurralado