- Gênero: Drama
- Direção: Esen Isik
- Roteiro: Esen Isik
- Elenco: Beren Tuna, Kida Ramadan, Ismail Metin, Ali Kandas
- Duração: 98 minutos
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A questão religiosa é sempre muito complexa de ser trabalhada, porque existem tantas nuances e subjetividades na relação com o etéreo, a fé propriamente dita, que a facilidade para os excessos está sempre à espreita. Al-Shafaq: Quando o Céu Divide parte da história de duas famílias para falar sobre extremismo religioso e cai na armadilha.
De maneira simplista, o filme joga a culpa do radicalismo na rigidez, insinuando que o fervor do pai seria o responsável pela fagulha jihadista no filho. Não bastasse ser grave pensar assim, as falhas do roteiro acabam deixando transparecer um certo preconceito, e muito pelo desenvolvimento insuficiente dos personagens, em especialmente de Burak, o filho. No afã de comprovar sua posição e denunciar o que vê como excessos da fé, a diretora turca radicada na Suíça Esen Isik, que também assina o roteiro, não dá consistência às personalidades e aos eventos. Não há material suficiente para determinar a origem da influência, embora Al-Shafaq entregue essa culpa sem considerar isso.
A reafirmação dessa culpabilização está também na ligação entre as duas histórias contadas de maneira entrecortada. Se de um lado Abdullah força o filho a seguir o Alcorão e comportar-se de acordo com os preceitos do Islâ, de outro, Malick e seu irmão tentam sobreviver na Síria após o assassinato de sua família. A vida do pai e do menino se encontram sob o Estandarte Negro, símbolo jihadista apropriado pelo Estado Islâmico.
Esteticamente, a direção de Isik é pontuada por influências distintas, embora seus planos e a cadência estejam mais próximas da cinematografia suíça, a dramaturgia e o tom do filme remetem às produções mais comerciais da Turquia. Essa indeterminação é positiva para o filme, que, ao ultrapassar barreiras, expõe a variedade com certa propriedade.
O trabalho dos atores principais também é digno de nota. Enquanto o libanês Kida Khodr Ramadan encarna bem o desolado (e culpado) pai, o jovem Ahmed Kour Abdo transita entre a ingenuidade e a tristeza, trazendo os momentos mais tocantes do filme. Isik tem uma boa percepção e valoriza sua presença em cena, destacando-o do ambiente, seja se protegendo da chuva sob um toldo os nas conversas com o irmão nos rochedos. A sensibilidade, porém, não está presente no retratar das agruras do irmão mais velho – com apelações gratuitas – ou no desenrolar da trama familiar de Abdullah – repleta de julgamentos.
Ainda que tenha seus pontos positivos, o excesso de certezas e a falta de comedimento comprometem ao filme. É frustrante porque a delicadeza e a sutileza com que o texto de Al-Shafaq traz a águia como símbolo de presença e ausência, liberdade e morte, demonstra o quanto tudo poderia chegar mais longe se a fé ou, melhor dizendo, a imagem negativa que a diretora traz da fé não-jihadista não fizesse parte da equação.
Um grande momento
“Você vai pagar o dele também?”