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Aliança do Crime

(Black Mass, EUA, GBR, 2015)

  • Gênero: Drama
  • Direção: Scott Cooper
  • Roteiro: Mark Mallouk, Jez Butterworth
  • Elenco: Johnny Depp, Joel Edgerton, Benedict Cumberbatch, Dakota Johnson, Kevin Bacon, Peter Sarsgaard, Jesse Plemons, Rory Cochrane, David Harbour, Adam Scott, W. Earl Brown, Bill Camp, Juno Temple
  • Duração: 122 minutos
  • Nota:

Toda a propaganda acerca da atuação de Johnny Depp, bem depois de muitos anos, já despertou a curiosidade para assistir ao filme Aliança do Crime, dirigido por Scott Cooper (Coração Louco). A primeira sequência em close up, quando acompanhamos o interrogatório de Kevin Weeks, vivido por Jesse Plemons, desperta ainda mais a curiosidade e cria uma expectativa muito positiva pelo que está por vir.

Infelizmente, não demora muito para que essa expectativa seja frustrada. Em um longa-metragem desequilibrado, arrastado e mal distribuído, com um mau uso de cenas mais fortes e um protagonista mal desenvolvido, conhecemos melhor a história de James “Whitey” Bulger, conhecido como um dos maiores gângsters da era moderna dos Estados Unidos e que, por anos, foi um dos criminosos mais procurados pelo FBI.

Quem vive Jim Bulger é Johnny Depp (Edward Mãos de Tesoura), em uma atuação realmente muito diferente das últimas que tem apresentado por aí, menos afetada e contaminada pelo tique adquirido por ele depois que viveu o pirata Jack Sparrow, na franquia Piratas do Caribe. Ainda existem alguns momentos de deslize, mas o ator consegue se controlar bem.

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E olha que o ambiente não é muito favorável. Com uma maquiagem esquisita e pesada, que dá a seu personagem uma constante cara de cadáver, e com um dos piores usos de lentes de contato da história recente do cinema, Depp ainda precisa se virar com um personagens irregularmente desenvolvido. Durante todo o tempo temos a impressão de que o protagonista do filme é uma pessoa desconhecida de quem se resolve falar alguma coisa. A personalidade deixada de lado, deixa espaço apenas para o engrandecimento dos personagens satélites.

É graças a eles que o filme consegue funcionar em alguma coisa. Com um bom elenco, temos várias atuações consistentes de Joel Edgerton (Guerreiro), Benedict Cumberbatch (O Jogo da Imitação), Jesse Plemons (Ponte dos Espiões), Rory Cochrane (Argo), David Harbour (O Protetor) e Peter Sarsgaard (Experimentos), o mais inspirado de todos, além de boas participações de Kevin Bacon (Footloose – Ritmo Louco), Adam Scott (Solteiros com Filhos), Juno Templo (Killer Joe – Matador de Aluguel) e Corey Stoll (Homem-Formiga).

Entre as qualidades também estão a direção de fotografia do japonês Masanobu Takayanagi (A Perseguição), que consegue trabalhar muito bem com a iluminação e planos diversos; e o desenho de produção assinado por Stefania Cella (A Grande Beleza), com arte de Jeremy Woodward (O Verão da Minha Vida), cenografia de Tracey A. Doyle (Quebrando a Banca) e figurinos de Kasia Walicka-Maimone (Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo), competente na recriação de várias décadas.

Mas nem todas as qualidades são capazes de superar o problema de falta de objeto e o ritmo arrastado do filme. Scott Cooper parece não saber muito bem qual é o melhor meio de contar sua história e, perdido em falatórios e na falta de ação, não sabe como fazer uso de cenas mais violentas ou que despertem alguma curiosidade no espectador.

É como se essas cenas fossem inseridas no susto, sem nenhuma elaboração prévia. Desconexas de todo o resto da levada do longa-metragem, causam estranhamento, apesar de serem os únicos momentos em que parece haver alguma coisa de Whitey Bulger, como se fossem as cenas que o tornassem real na trama. Duas sequências são um bom exemplo disso: a conversa na mesa com John Morris e a despedida de Marianne Connolly. Ambas estão próxima uma da outra, mas só acontecem depois de muito filme decorrido.

Mais do que na montagem, um trabalho até esforçado de David Rosembloom (O Informante), o problema do filme está no roteiro, com suas personagens super ou subdimensionadas e com um distanciamento da história contada que a deixa, por mais de uma vez, pouco aceitável ao espectador. Nas mão de alguém que não consegue determinar que caminho quer seguir, o resultado é sempre inferior ao que poderia.

Cansativo, desinteressante e frustrante, Aliança do Crime tinha história, elenco e uma excelente equipe técnica, mas faltou a coisa mais importante em um filme, o diálogo com quem o assiste.

Um Grande Momento:
O início do depoimento de Kevin Weeks.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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