Crítica | Streaming e VoDDestaque

O Abismo

Entre escombros

(Avgrunden, FIN, SUE, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Richard Holm
  • Roteiro: Richard Holm, Robin Sherlock Holm, Nicola Sinclair
  • Elenco: Tuva Novotny, Peter Franzén, Kardo Razzazi, Felicia Maxime, Tintin Poggats Sarri, Edving Ryding, Angela Kovacs
  • Duração: 100 minutos

Quem estava com saudades de filmes catástrofe, pode parar de sentir. A Netflix acabou de estrear um novo provável campeão de público, O Abismo, produção sueca do gênero que, para quem viveu a adolescência dos anos 90, nos transporta para O Inferno de Dante. Se Pierce Brosnan e Linda Hamilton tentavam salvar a própria família de um vulcão redivivo, aqui temos uma família (separada) que não pode negar que sua cidade está sendo dizimada por um desabamento coletivo. Dentro de seus próprios limites, o streaming coloca em cena efeitos bem interessantes em uma narrativa que demora para deslanchar, e ainda assim sobram méritos sobre o ritmo da produção, que não ao contrário dos seus primos hollywoodianos, é um filme curto. 

O sueco Richard Holm, apesar de ter poucos longas no currículo, é um especialista em séries de tv e videoclipes que não se furtou em observar tudo o que o cinema do outro lado do oceano faz há décadas. A aplicação dos elementos tem o ritmo que costuma ter nas produções do gênero, a situação é somente afetada pela duração de O Abismo. Porque esses filmes costumam ter bem mais de duas horas de duração, e com isso a preparação para o desastre pode durar quase uma hora, e ainda restará hora e meia para explorar a catástrofe de muitas formas. Como aqui são apenas 100 minutos, e a preparação dura o mesmo tempo que os outros filmes, resta muito pouco tempo para o que o público quer ver de verdade, e o motivo pelo qual esses filmes são feitos. 

A tensão é bem construída, como sempre esses filmes são desenvolvidos em cima de crises familiares que eclodem durante a tragédia (e muitos pedidos de perdão são feitos em momentos inimagináveis para tal), e nos envolvemos com o grupo de personagens aqui expostos. É um quadro familiar desfeito, o novo namorado da mãe, além da namorada da filha mais velha, que terão de se mostrar unidos apesar dos pesares, e sobreviver em meio aos temas que precisam ser abordados no meio dos escombros, literalmente. Nada que não exista também desde o início do gênero, mas que é necessário para sua manutenção; se Holm declarasse que existia uma clara inspiração nos motes de Steven Spielberg, eu não ficaria surpreso. O Abismo tem um roteiro do qual o mestre estadunidense teria orgulho.

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Os efeitos são discretos, e mesmo que eles não estejam no centro das atenções (claro que por motivos de orçamento), o que pode depender deles, o filme não envergonha. Mas a verdade é que sim, O Abismo tem interesse maior na interação entre os seis protagonistas e em como suas vidas se darão a partir das crises que eles se encontram. Esse também será um dos motivos pelo qual o sucesso do filme é certo, porque a identificação com seus dramas é inegável. Nada muito elaborado, mas o suficiente para que a empatia seja muito bem acionada, e que é realizado sim com algum talento. Particularmente sinto que o trio de adultos vai se revelando cada vez menos concreto do que imaginávamos, e os últimos planos do filme mostram que o desmoronamento afetou muito mais do que a cidade. 

O mesmo tanto que tem de competência em O Abismo também tem de ausência de algo novo, e substancial, em cena. Temos ‘pautas’ em cena, personagens lésbicas, um ator de traços do Oriente Médio, mas nada que se configure como uma discussão; todas as ‘diferenças’ só estão expostas no filme para criar uma mediação com a normatividade e quebrar expectativas iniciais. Essas aparências estão em cima da mesa, mas nada tem a intenção de criar atrito ao tradicional. Ou seja, o roteiro escrito a seis mãos não tem outra preocupação, que não a de provocar um breve ruído, ainda pouco para que se configure algo a ser debatido. 

Na linha de frente, temos esse trio talentoso (Tuva Novotny, de Guerra; Kardo Razzazi, de Rheingold; Peter Franzén, de A Roda do Tempo) que consegue exalar disrupção entre si o tempo inteiro, incluindo até uma briga absurda por uma aliança que extrapola o bom senso. Nada disso serve para realçar qualquer traço de novidade em O Abismo, mas também é difícil não se envolver em algo que percebemos ter o talento para sua construção. Quando menos esperamos, os créditos começam e fomos enredados pela narrativa rápida do início ao fim. 

Um grande momento

O clímax na escola

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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