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Ao Cair da Noite

(It Comes at Night, EUA, 2017)
Terror
Direção: Trey Edward Shults
Elenco: Joel Edgerton, Kelvin Harrison Jr., Carmen Ejogo, Christopher Abbott, Riley Keough, Griffin Robert Faulkner, David Pendleton
Roteiro: Trey Edward Shults
Duração: 91 min.
Nota: 9 ★★★★★★★★★☆

Está tudo bem até o momento em que se precisa encarar o que não se conhece e enfrentar aquilo que não se vê. Com uma noção muito apurada de atmosfera de terror, o diretor Trey Edward Shults (Krisha) leva a tensão de poucas pessoas para fora das telas e desperta em quem assiste a Ao Cair da Noite um sentimento muito comum entre os humanos, o medo.

O filme conta a história de uma família que vive isolada em uma cabana na floresta e, para não estragar a experiência de ninguém, é melhor que a sinopse não se alongue muito além disso. O que se vê não é explícito e nem tem a intenção de explicar acontecimentos ao espectador. De maneira crua e direta, Shults apenas indica o seu ponto de partida e deixa que cada um crie a sua história e o seu caminho.

Com um roteiro funcional, também assinado por ele, sobra à direção dedicar-se à aura aterrorizadora do filme, e isso é feito. Silêncios, escuros, sons, pesadelos são milimetricamente pensados para gerar ansiedade e apreensão tão desejados, mas nem sempre presentes, em filmes do gênero. Assim, e sem maiores informações, a desconfiança toma conta da trama.

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Justamente pela manutenção competente deste medo, Ao Cair da Noite mostra-se, desde o princípio, um filme muito diferente do que se tem visto atualmente. Há um respeito pela atmosfera e uma compreensão de que a participação daquele que acompanha a trama é fundamental. Algo que remete a qualquer clássico não estrutural da arte de horror, aquilo que começou a ser defendido pela literatura e que se mostra um diferencial no cinema. Mesmo que seja mais fácil o mostrar, o assustar, é o que não se vê, aquilo que só existe na imaginação alheia, que constrói a experiência.

Ciente disso, Shults ainda tem a seu favor o uso adequado das técnicas cinematográficas. Há momentos de provocação de reações, seja com enquadramentos muito fechados, seja com o brincar com locações sem qualquer iluminação artificial, utilizando-se apenas de pequenos focos de luz orgânicos, aqui num trabalho bem interessante do diretor de fotografia Drew Daniels (All That Remains).

A opção pela ausência de som incidental também é acertada. Por muitos momentos é exclusivamente isso que determina o tom do filme, um silêncio que vem quando o que se quer é alguma explicação. Essa falta de informações, por acaso, é algo que também deveria acontecer mais vezes no cinema.

Assim, com um apanhado de muitos acertos, Ao Cair da Noite surge como um filme extremamente simples em sua concepção, mas ousado em sua execução. Um filme que realmente se preocupa com sua atmosfera e que acredita que sua audiência, por sua conta, vai experimentar o terror de verdade.

Um Grande Momento:
Seguindo Stanley.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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