Crítica | Festival

Sorry, Baby

(Sorry, Baby, EUA, ESP, FRA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Eva Victor
  • Roteiro: Eva Victor
  • Elenco: Eva Victor, Naomi Ackie, Lucas Hedges, John Carroll Lynch, Louis Cancelmi, Kelly McCormack
  • Duração: 103 minutos

Sorry, Baby, longa dirigido, roteirizado e protagonizado por Eva Victor é um filme que não se interessa em ser como tantos outros que tratam sobre traumas e acabam determinando vidas e personalidades de mulheres e pessoas não-binárias como ela. Ao contar a história de Agnes, não está interessado apenas em analisar. Acompanhado a personagem, entende que a experiência, mais do que um evento no tempo, passou a fazer parte daquela pessoa. Com revelações esperadas e ainda assim doloridas, e sem grandes reviravoltas, o longa opta por uma narrativa fragmentada, feita de tempos que se sobrepõem e sentimentos desordenados.

Ao optar pela não linearidade, Victor traduz a confusão e a distância entre a experiência e a memória, além de se aproximar do trauma. O roteiro, cuidadoso, equilibra humor, dor e momentos de vazio. O local que se busca – e se encontra – é, infelizmente, tão banal e conhecido, que a experiência ganha outros contornos quando se pensa em relações cotidianas e sentimentos usuais. Elu é corajosa ao deixar certas lacunas, sem buscar explicações fáceis. Agnes não é apresentada como uma pessoa heróica resiliente, mas como alguém imerso em contradições, o que torna sua trajetória muito mais verdadeira.

O filme ganha pontos adicionais na construção do ambiente que circunda a personagem, na composição de outras vivências. Ao se pensar em rede de apoio, há espaço para o afeto, mesmo que acidental, e o acolhimento sincero. Há também incentivo e compreensão, quando a existência não precisa necessariamente de solução, mas de apoio. Apesar de todos os seus momentos de dor e vazio; de ver que a vida seguiu para todos, enquanto para ela há uma desordem que paralisa, Agnes sabe que pode contar com aquele tipo de amizade precioso, que não resolve o problema, mas de cria um espaço onde pode apenas existir.

Na atuação, Victor traz a vulnerabilidade necessária Agnes, sem exageros e isso é importante para que o filme funcione, em especial pela proximidade com a personagem. Ela é irônica, por vezes engraçada, por vezes triste, por vezes opaca, mas nunca se torna inacessível. A entrega complementa o olhar na direção. Esteticamente, Sorry, Baby opta pelo minimalismo que dá o tom à jornada. Não há excesso de trilha, não há enquadramentos dramáticos insistindo na emoção, mas um cinema de espaços e silêncios.

Sorry, Baby é um filme que não se preocupa em encontrar um formato narrativo perfeito para falar da dor. Ao contrário, prefere mostrar que viver com ela significa conviver com uma coleção de instantes irregulares.

Um grande momento
Ela não conta

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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