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Impermeável Pavio Curto

(Impermeável Pavio Curto, BRA, 2018)
Drama
Direção: Higor Gomes
Elenco: Kauane Tarcila, Juliana Floriano, Emanuele Paixão
Roteiro: Higor Gomes
Duração: 20 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Jaque está em transição, naquela fase em que não se é mais criança, mas ainda não se é adulta. Em sua solidão tenta se encontrar entre as marias chiquinhas trançadas, o rímel e os adereços diante do espelho. A ebulição interior se encontra na internalização dos sentimentos e se expõe nos confrontos escolares com a colega que está vivendo o mesmo momento de maneira diferente.

Impermeável Pavio Curto não é evidente, não busca a explicitação das situações de confronto, mas o desconforto que está por trás delas. Aquela menina, que domina o espaço da cidade com sua bicicleta e que não quer se explicar, está em fase de apreensão, num sentimento parecido com aqueles que estão do outro lado da tela, tentando decifrá-la. A descoberta íntima é compartilhada, ainda que não se possa nela interferir. O curta provoca um jogo interessante de reconhecimento e estranheza, na introspecção de uma e no distanciamento de muitos, satélites ou externos.

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As interações não respondidas chegam em planos muito bem desenhados, onde o distanciamento se destaca em composições maduras e na opção aberta. O viver do ambiente, mais interior, é próximo e movimentado. Jaque, sozinha, está parada enquanto a cidade e a vida passam. Perdida em suas próprias confusões, naturais e normais a todas que passam por esta fase da vida, ela encontra de alguma maneira a sua liberdade.

A constituição pessoal vai ganhando dicas ao longo de Impermeável Pavio Curto. No cotidiano com as tias, na ideia fixa no recreio e na notícia da mudança de vida, uma mudança que ela não tem como impedir que aconteça. Entende-se muito desse lugar indefinido no sorriso despertado pelo Kinder Ovo e na tristeza que faz seus ombros caírem ao receber a notícia da tia. Jaque quer ter o mundo, na configuração que deseja, mas ele parece direcioná-la a outro caminho. Um caminho que ela não quer seguir.

O caminho feito por ela, ali tão puerilmente designado por pedais e guidons que aparecem também como dicas de fuga, trazem um encarar de uma nova realidade. Ela define seu destino, independentemente das condições que a imponham.

Um Grande Momento:
Comendo ouvindo a tia na cozinha.

[VI Tudo Sobre Mulheres]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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