(Amama, ESP, 2015)
Um antigo casario serve como pano de fundo para a bela metáfora sobre ruptura de tradições em Avó, longa-metragem do diretor basco Asier Altuna. O filme é repleto de símbolos e, embora esteja muito atrelado a particularidades regionais, consegue atingir a universalidade.
Mantendo a tradição, a matriarca da família determina quem será o sucessor do casario. A estrutura, definida há séculos, encontra seu primeiro abalo quando o eleito resolve romper com o estabelecido e parte do local. Depois do abalo, uma nova estrutura começa a se estabelecer, trazendo à tona diferenças familiares e conflitos de geração.
Com um visual impressionante, seja ao criar sequências oníricas ou ao mesclar instalações de video-arte à bela fotografia de Javier Agirre Erauso, Avó impressiona e absorve o público. Ao trabalhar bem com os símbolos, todos sempre muito ligados ao velho e o novo, Altuna constrói uma realidade crível e bastante interessante.
Muito da força do filme está em seu elenco. A expressividade das feições de Amparo Badiola, uma não-atriz escalada justamente por seu olhar para o papel título, soma pontos ao bom trabalho de Iraia Elias como a filha rebelde e Kandido Uranga como o pai resistente a mudanças. Em um universo quase fabular, são eles que trazem realidade à história.
Avó conta ainda com uma montagem precisa de Laurent Dufreche e a direção de arte inspirada de Mikel Serrano. Os acertos, porém, podem causar estranhamento em alguns, que enxergam o filme como uma construção estética prefeita para uma história devolvida de maneira simplória. Para outros, os que se rendem ao filme, o que se vê dá ainda mais vigor à história contada, que envolve conflitos comuns.
Porém, diferenças à parte, todos saem da sala com a certeza de ter visto um filme de muitos acertos e qualidades.
Um Grande Momento:
A sequência da ruptura.
[26º Cine Ceará]