Crítica | FestivalMostra de Tiradentes

Bandeira de Retalhos

(Bandeira de Retalhos, BRA, 2018)
Drama
Direção: Sérgio Ricardo
Elenco: João Gurgel, Marcello Melo, Kizi Vaz, Renan Monteiro, Antonio Pitanga, Osmar Prado, Bemvindo Sequeira, Babu Santana
Roteiro: Sérgio Ricardo
Duração: 90 min.
Nota: 2 ★★☆☆☆☆☆☆☆☆

Há toda uma iniciativa a ser enaltecida em Bandeira de Retalhos, quando se pensa na participação do coletivo Nós do Morro, projeto criado no Morro do Vidigal nos anos 1980, com a intenção de formar artisticamente moradores da região. O longa-metragem, dirigido por Sérgio Ricardo e adaptado de uma peça teatral do coletivo, enaltece não só o projeto, mas as pessoas que tiveram a vida influenciada por ele.

Porém, muito pouco consegue ir além no filme, mesmo com um começo promissor e um pano de fundo interessante – a desocupação de terrenos no Morro do Vidigal, com a derrubada dos barracos ali existentes. O modo como a narrativa é construída é problemático. A ineficiência na elaboração dos personagens, a pouca credibilidade de cenas específicas e uma indefinição no estilo cinematográfico a ser seguido são impossíveis de serem ignoradas. Assim como é difícil não perceber que tudo o que se vê parece estar, de certo modo, parado em um tempo passado, como se o filme tivesse sido feito há anos atrás, na época que retrata.

Perdido em atuações irregulares – o que não pode ser considerado e nem mesmo adequadamente mensurado, tendo em vista o roteiro superficial – e muitas passagens quase desconexas, Bandeira de Retalhos está entre as produções em massa para a televisão e tentativas de resgate de um cinema que já resta superado. Em jogos rasos de plano e contraplano ou em enquadramentos mais ousados, mas já batidos e tantas vezes vistos no cinema de outrora, o filme vai se comprometendo cada vez mais.

Apoie o Cenas

E vai se arrastando até chegar a sua passagem mais complicada, quando Bituca invade a casa de Tiana. A artificialidade da interação entre os dois personagens, a dança que representa a inversão na relação e o desfecho com uma constrangedora e absurda cena de sexo são alguns dos muitos erros a se destacar na sequência.

Bandeira de Retalhos só sobrevive mesmo em seu resgate histórico dos eventos, quando usa imagens de arquivo para retratar a resistência daqueles moradores do Vidigal que conseguiram manter as suas casas nos anos 1970. Mas isso não é suficiente para superar o desequilíbrio entre os dois gêneros cinematográficos.

Um Grande Momento:
As imagens de arquivo.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Botão Voltar ao topo