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Beduino

(Beduino, BRA, 2016)
Drama
Direção: Júlio Bressane
Elenco: Fernando Eiras, Alessandra Negrini
Roteiro: Júlio Bressane
Duração: 75 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Em seu novo filme, Beduino, Julio Bressane fala exclusivamente da palavra e de seu local na vida das pessoas. No começo vagando em silêncio como duas criaturas perdidas, um casal encontra nas palavras o elemento essencial para sua existência, algo como a água.

Com interpretações eficientes de Fernando Eiras e Alessandra Negrini, o roteiro de Bressane ganha corpo ao dar vida a diversas frases e sentenças que parecem saídas de lugares diversos, de poesias famosas a ditados populares, de falas de grandes tragédias gregas a simples repetições cotidianas.

A variedade do que é dito gera uma variedade daquelas personalidades. Vê-se um casal que passa por várias fases ou vê-se vários casais. Cada pessoa naquele casal não assume, durante o relacionamento, várias outras personas, que precisam também de outras personas para interagir?

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Com seu jeito muito particular de pensar e criar o cinema, pensando muito mais em sua satisfação do que na de quem assiste ao seus filmes, Bressane consegue criar obras ímpares, cheias de divagações filosóficas e com uma carga de significados que chegam muito além do lugar que ele próprio esperava alcançar.

É graças a esta liberdade, apimentada por uma visão particular do ser humano e pela cultura acumulada durante os anos, que Bressane extraí tanta coisa da simplicidade e, mais, consegue colocar na tela aquilo que bem entende, de resgate de personagens históricos a personagens que ele mesmo criou. Em Beduíno, por exemplo, ele volta a seu próprio começo e recupera o personagem de Guará Ribeiro de Memórias de um Estrangulador de Loiras.

Com inserção de cenas de seu primeiro filme e o reencenar por seu protagonista atual, Fernando Eiras, cria uma espécie de círculo. Como algo que nunca termina, assim como as relações humanas. Mudam-se as pessoas, mas tudo funciona da mesma maneira.

Poético, Beduíno faz da simplicidade sua maior qualidade e, entre tantos textos e citações, tem muita coisa a dizer.

Um Grande Momento:
O estrangulador de loiras.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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