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Belle

(竜とそばかすの姫, JAP, 2021)
  • Gênero: Animação
  • Direção: Mamoru Hosoda
  • Roteiro: Mamoru Hosoda
  • Duração: 121 minutos

Something in the night
Something in the day
Nothing is wrong
Something’s in the way
There’s slaughter in the air
Protest on the wind
Someone else inside me
Someone could get skinned
Someone fetch a priest
You can’t say no to the Beauty and the Beast

Na solidão incontornável provocada pelo luto materno ou pela opressão paterna, a Bela e a Fera se reconhecem como almas irmãs no filme japonês de animação.

O poeta Jean Cocteau fez um dos filmes mais lindos do mundo com sua leitura lírica do conto de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, escrito na França em 1740. E Mamoru Hosoda (de Mirai e As Crianças-Lobo), que pode não ser ainda tão conhecido fora do círculo dos amantes de animes e mangás, vem trilhando seu caminho como cineasta autoral e independente desde que saiu da Toei Animation para fundar o Studio Chizu, através do qual realizou seis longas, sendo o último sua personalíssima e moderna interpretação do conto de fadas francês: Belle – ou como ele é subintitulado no Japão, O Dragão e a Princesa Sardenta.
Foram 14 minutos de ovação e aplausos após a exibição no festival de Cannes de 2021. O lançamento de Belle marcou os 10 anos do Studio Chizu e encheu o mundo de expectativas, devidamente alcançadas.

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Belle
GKIDS

Como a imagem-espelho presente em outro filme de Hosoda, Guerras de Verão, Oz em Belle é U, o mundo virtual que reflete os conflitos emocionais vividos pela protagonista Suzu em sua vida cotidiana, seja na escola ou em casa. Ela é uma adolescente tímida que busca não só abrigo na virtualidade mas uma maneira de extravasar sua dor fazendo o que mais ama, que é cantar. O cineasta japonês vai cosendo, com destreza e sensibilidade, a colcha de retalhos que forma a personalidade de Suzu refletida em seu alter ego Bell ou Belle. O aplicativo usa seus algoritmos para tecer uma persona baseada em aspectos corporais e que ressalte as qualidades da pessoa representada. Com isso, Suzu se torna uma cantora virtual amada e famosa na comunidade com mais de 5 bilhões de usuários.

Unindo o esplendor da animação clássica ao arrojo do visual mais cyberpunk que fabula o espaço virtual, Hosoda traz camadas em formas de homenagens seja à animação da Disney de 1991 – com avatares de bichinhos kawai substituindo os utensílios domésticos – ou ao filme de Cocteau, com os closes e planos que detalham nuances do castelo, da fera e das rosas; as cascatas de avatares no desfile de abertura, com Belle performando em cima de uma baleia remetendo a visualidade do mundo de Paprika ou mesmo o grande estofo filosófico que trazem as irmãs Wachowski com Matrix proporcionando todo um debate sobre o metaverso. Hosoda sabe que seu público maior é a juventude e que esta está online mesmo quando dorme, logo a reflexão que provoca é bem vinda pois provoca atravessamentos sobre como buscar a cura das dores e entender quem se quer ser sem obedecer a padronização ou “likes” e seguidores.

Belle
GKIDS

Ajudando a tornar o filme mais memorável estão as canções de Belle, sendo que a canção-título e a que é intitulada “U” são do grupo pop japonês Millenium Parade e as mais cativantes. A visão do animador japonês ainda é aprimorada a partir da colaboração com animadores sensacionais como Tom Moore e Ross Stewart do Cartoon Salon (o estúdio que fez Wolfwalkers) e Jin Kim, da Disney. Mas de nada adiantaria desbundar com o visual se a história não engajasse para além da norma do final feliz da fábula. Belle trata de empatia, amor fraterno e coragem para ultrapassar obstáculos como a fama ou o medo da rejeição.

Hosoda uma vez se referiu a obra do amigo, o visionário Satoshi Kon, como filmes de animação tão poderosos quanto filmes live-action. Belle é um filme maduro, mágico e que coloca em outro patamar a carreira do cineasta japonês e amplia o escopo do cinema de animação.

Um grande momento
Os olhos da fera revelam a identidade

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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