- Gênero: Comédia
- Direção: Ale McHaddo
- Roteiro: Ale McHaddo, Cris Wersom, Luiz Felipe Mazzoni,
- Elenco: Leandro Hassum, Bruno Garcia, Claudia Campolina, Marcelo Mansfield, Olivia Lopes, Paulinho Serra, Fernando Alves Pinto, Cris Wersom, Felipe Torres, Wandi Doratiotto, Nany People, Ale McHaddo
- Duração: 90 minutos
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A parceria entre Leandro Hassum e a diretora Ale McHaddo já rendeu ao menos uma nota fora dos padrões para a comédia popular brasileira, que tão achincalhada é – principalmente pelo olhar crítico. Meu Cunhado é um Vampiro não tem os vícios do que estamos acostumados a ver em outros exemplares do que Hassum já apresentou ao lado dela, ou em suas incursões anteriores sem ela; ágil e verdadeiramente divertido, o filme foi um sucesso merecido. O novo filme deles acaba de chegar aos cinemas, Uma Advogada Brilhante, e tudo que podia ser dito a respeito do filme anterior, não consegue ser aplicado aqui, e muitas outras implicações negativas serão observadas ao longo da narrativa.
Será que em 2025 o espectador médio ainda sabe o que são Tootsie e Uma Babá Quase Perfeita? Gostaria de acreditar que sim, mas tenho minhas dúvidas. Seja como for, o filme novo se inspira em outras fontes de sucesso do passado para tentar uma espécie de comunicação com o presente. É complexo de muitas maneiras que hoje seja realizada uma produção onde “um homem se vista de mulher para conseguir X coisa”, seja ela qual for. Ao alcançarmos Uma Advogada Brilhante, em particular, o nome de McHaddo como diretora e roteirista não atenuou nada para a falta de tato com que se trata as questões que deveriam ser não uma obrigatoriedade do filme, mas um norte seguro e possível. Quanto mais o filme avança, mais problemas ele incorre.
Como o projeto parte da anuência de McHaddo, de sua participação direta e apoio ao que é dito e propagado, Uma Advogada Brilhante precisa ser analisado de forma ainda mais cuidadosa. O que não tem como ser discutido, por exemplo, é o fato do personagem de Hassum ser irmão de uma mulher trans, ainda bem vivida pela atriz Olivia Lopes (em ótimos momentos), e chamá-la pelo nome morto algumas vezes, a título de ‘piada’ do roteiro. Se existisse um exemplo apenas que apontasse para algo tipo de transfobia vinda de um filme como esse, já seria o suficiente para torná-lo problemático, mas infelizmente não é esse o único dado. O filme parece não ter tido cuidado algum na maneira de enfatizar suas ideias, com um roteiro que não apenas sugere ter sido escrito há mais de 30 anos, com suas piadas de cunho machista repetidas à exaustão, como também não houve qualquer revisão para que esses estereótipos não chegassem à tela.
Porque, enquanto um filme identificado como comédia, promover uma montagem e uma trilha sonora que enfatizem o humor em torno do comportamento violento e viciado de alguns homens, essa diversão pediu para sair e não voltou mais. A todo momento durante a projeção, me perguntava quando o filme conseguiria apresentar humor de verdade, e não repetições de padrões televisivos, incluindo antigos os mais antigos e estereotipados valores envoltos em quadros onde gênios como Jô Soares ou Chico Anysio não chegaram a revolver. Da forma como é apresentado, Uma Advogada Brilhante é mais um caso onde nem a ideia parece ter sido testada junto a um público especializado. E não, não estou falando de pessoas de gênero não-cis, mas principalmente amantes do bom humor, que com certeza não encontrariam qualquer motivo para rir em cena, que não com repetições infinitas. É sério que a óbvia cena do restaurante onde o protagonista está em dois encontros diferentes e precisa trocar de roupa a cada minuto ainda provoca outra coisa que não enfado?
Quanto ao elenco… bom… já citei Lopes né… minhas outras citações seriam a lembrança do grande Wandi Doratiotto, ator veterano raras vezes reconhecido, e a bela surpresa que é Claudia Campolina. Bom, surpresa para quem? Quem utiliza redes sociais como instagram e tiktok já conhece o talento de Campolina, e não é de hoje. Ela explodiu em vídeos irônicos apontando o machismo das relações pessoais, criou personagens excepcionais, e agora recebe a atenção devida de uma grande produção. Nem ela e nem Wandi são explorados em suas qualidades totais, mas Uma Advogada Brilhante encontra neles um respiro de empolgação que consegue nos tirar, por breves momentos, do manancial de erros que assola o todo.
A maior parte do tempo, no entanto, Uma Advogada Brilhante constrange. Defensor das comédias nacionais populares que sou, particularmente não consigo entender ainda produções tão pouco cinematográficas quanto essa, onde nem a narrativa se sustenta, nem os arranjos de realização. O filme poderia ter diversas saídas que justificassem sua feitura, mas com cenas copiadas de outros produtos e que hoje são apenas gastas, com uma direção que não privilegia qualquer identificação com arrojo possível, a aposta única e exclusivamente na identificação das classes que menos cobram por resultados é pouco na confecção de uma produção, quando até filmes como Os Farofeiros pensam imagem. Não é justificativa para filme algum não se preocupar com decupagem ou valores de produção, e apontar que “nosso interesse era apenas entreter” é uma desculpa vagabunda para entregar material ruim para o espectador.
Se, além de todos os erros, a comédia ainda não for nada engraçada, e apostar em tiques de produção para tentar provocar alguma reação, como claques sonoras incluídas através de uma trilha óbvia e intrusiva, aí o resultado é esse, mais triste que engraçado. O plus do mau gosto vem da ausência de representatividade já citada, além da zombaria explícita que o filme utiliza dos códigos identitários, como nas piores “piadas de tiozão” (o público para o qual o filme é claramente destinado) e a tentativa de vencer o espectador pela emoção barata. Uma Advogada Brilhante é um produto que, ainda bem, não depende da análise crítica para conquistar o público. Que salvemos, exclusivamente, o valor das bilheterias.
Um grande momento
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