(Bibliofagia, BRA, 2008)
Direção: Renato Cunha
Elenco: Marcos Abel, Davi Reis, Clara Luz, Simone Reis, Natássia Garcia, Chico Sant’Anna, Bruno Dourado, J. M. Borba
Roteiro: Renato Cunha
Duração: 14 min.
Nota: 5
Genésio é um bibliotecário que desde criança devora livros avidamente. Passagens de livros escritos por Franz Kafka, Manuel Bandeira, Clarice Lispector e George Orwell começam a perturbá-lo.
O curta tem uma proposta interessante e até começa bem, com as passagens literárias se embaralhando na cabeça do espectador.
Com um visual bem interessante e boas tomadas da Biblioteca Nacional, Renato Cunha constrói um universo bem particular, mas alguma coisa dá errado no meio do caminho e todo o ambiente vai ficando mais estranho do que atraente.
Talvez sejam as repetições, que afetam o ritmo; a aura nonsense; ou o final abrupto.
A personificação da escritora Clarice Lispector, exagerada, quase irrita quem está vendo o filme.
O filme poderia ser muito melhor, mas ficam as boas atuações, a fotografia de André Macedo e a idéia original.
Um Grande Momento
Animal Farm
Prêmios e indicações (as categorias premiadas estão em negrito)
Festival de Brasília: Mostra Brasília – Curta 35mm
Olá!
Gosto é assim, né? Cada um tem o seu.
Apesar dos pesares, não achei o filme péssimo, Marcelo. É um filme para quem gosta muito de literatura, eu acho…
Que bom que você gostou Edelweiss. Eu confesso que não consegui ver tantas coisas como você, mas a passagem de Animal Farm é muito boa.
Beijocas para vocês
Apreciei muitíssimo o curta “Bibliofagia”, de Renato Cunha. Cumpriu sobejamente o papel de um curta, pois foi capaz de condensar magistralmente uma narrativa densa; trabalhou com muito talento a não-linearidade do tempo; agregou poesia às imagens e construiu um enredo instigante ao misturar o real ao delírio. No delírio, a presença de Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Kafka e George Orwell e a tensão criada pela reificação — talvez mais que isso: a bestialização — do ser humano deixaram que se percebesse a força da arte na redenção — ou, pelo menos, na elevação — do homem.
Os textos foram escolhidos a dedo, percebe-se. Às vezes, a fonte foi explicitada (no caso da Clarice, ao fechar-se a imagem no livro); às vezes, não. O espectador tem um pouco de trabalho, pois nenhum sentido possível vem-lhe de graça. Tem trabalho quem não leu as obras, mas também quem as leu, pois o excerto utilizado de “A revolução dos bichos” foi deslocado de seu contexto original. Em tese, as regras citadas deveriam servir para garantir aos bichos a não-identificação com os prazeres vazios e alienantes dos humanos, o que os tornaria melhores, mas, no contexto do filme, serviram para evidenciar que “não deitar em uma cama”, por exemplo, no caso do homem, é uma restrição basal. Subversão do texto. Inteligência de quem é capaz de construir a partir da polifonia; vozes que podem — e devem — ser reinterpretadas, e não simplesmente repetidas. A vida real e os símbolos que cria o filme a partir das vivências do personagem; a vida real e a capacidade humana (seja do diretor, seja do personagem, seja do espectador) de interpretar os símbolos e, por meio deles, ressignificar o mundo — no caso, com as ferramentas da literatura —desafiam a capacidade interdisciplinar do espectador na construção dos sentidos do filme.
A sofisticação trazida à cena pela declamação dos textos em língua original e a eterna, mas nem por isso menos instigante, experiência vicária da figura materna das dores do mundo conferem ao filme um caráter plural, bem à moda pós-moderna e, por isso mesmo, atualíssima. Bravo! Bravíssimo!
Edelweiss Mafra (revisora de textos).
Achei este curta péssimo !
Nao entendi quase nada. Os autores parecem que voltaram ao cinema-nacional-chato dos anos 60…
Marcelo Hermes
Prof da UnB (de bioquímica)