- Gênero: Ficção científica
- Direção: Afonso Poyart
- Roteiro: Josephina Trotta, Afonso Poyart, Cris Cera, Victor Navas, André Vidigal
- Elenco: Jessica Córes, Bruno Gagliasso, Gabz, Christian Malheiros, Danton Mello, Guta Ruiz, Nill Marcondes, Paulo Vilhena, Klebber Toledo, Erika Januza, Marcio Fescher, Miguel Nader, Miguel Falabella
- Duração: 108 minutos
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Lembro, como espectador, do surgimento de Afonso Poyart, com seu insano 2 Coelhos e a certeza de que uma voz bastante diferenciada tinha chegado à cena de um novo cinema brasileiro, que estava reencontrando maneiras de se comunicar com o público, e como parecia honesta aquela abordagem. Um filme de ação, que se comunicava com um público jovem, com um roteiro cheio de referências do que estava acontecendo no cinema britânico e que tinha um claro apreço pela imagem, era uma pedra que faltava na nossa cinematografia. Muitos anos e muitos outros filmes depois, a Netflix lança esse Biônicos, novo filme do diretor, e tudo parece estacionado no que foi imaginado àquela época.
Poyart, aos poucos, foi mostrando que o estilo utilizado em sua estreia podia resumi-lo a tal conceito, e quanto mais ele tenta fugir do que foi sua estreia, mais séria se tornava a aproximação com um cinema vazio de distinção. O movimento que realiza na direção da ficção científica, dessa vez, não torna seu resultado mais pessoal; estamos diante de um claro produto para o qual ele foi contratado para realizar, com um fiapo do que foi um dia. Se esteticamente Biônicos é tão interessante quanto genérico, e parece só reproduzir imagens que já conhecemos dos muitos filmes que já assistimos, narrativamente o projeto escrito a 10 mãos comprova o que seu visual tenta esconder.
Nem se trata exatamente, enquanto evolução de obra narrativa, de um incômodo com algo que já vimos, porque a máxima “toda história já foi contada, o que importa é a forma como ela é contada dessa vez” cabe muito aqui. Se o destino de Biônicos era exatamente ser o que se é, um produto de entretenimento caseiro e esquecível, que ao menos houvesse capricho no que está se contando, porque na forma – mesmo repetida – até há. Mas tudo que é apresentado pelo filme é raso no desenvolvimento e rápido no resultado, com as situações partindo de lugares não investigados anteriormente e chegando a uma conclusão da maneira mais veloz possível. Não há tempo para contar uma história com coerência, parece ser a mensagem dada.
O envolvimento sexual entre os protagonistas, por exemplo, é muito vazio exatamente porque não se tem ideia de como ele chegou até ali, assim como ele desaparece assim que a cena em si é encerrada. Parece cumprida à risca para entregar uma tabela pré-concebida, e tentar fazer com que Poyart lembre de como foi boa sua sessão do clássico de David Cronenberg, Crash. Assim como essa situação específica, todas as outras são sublinhadas sem aprofundamento e sugerem que a história que estava sendo contada era um pretexto para que o filme estivesse sendo acessado pelo espectador, para garantir sua audiência. Pensar em sua coerência narrativa? Hein? Isso existe?
Então temos uma dupla de irmãs atletas cuja rivalidade leva uma delas ao extremo de suas condições físicas, e a outra a enveredar para o mundo do crime sem qualquer explicação – e outro “produto” Netflix tem a premissa partindo de um lugar para chegar ao mesmo, Carga Máxima. Paralela a essa história, uma dupla de policiais telepatas (não, porque o personagem de Danton Melo só pode ser médium) chega às conclusões que o roteiro precisa que eles cheguem, mesmo que não exista qualquer linha de pensamento que una eventos, como o acidente de Maria. Porque o tira chegou tão rápido a uma conclusão de que uma moça super ética virou bandida? Bom, porque o roteiro precisa disso.
Ainda que o “cinema seja a arte da imagem”, Biônicos não se prepara para que sua defesa estética seja bem embasada também, entregando um filme bem feito porém absolutamente reiterativo. Como esse roteiro (repito, escrito a 10 mãos!) não tenta igualmente limpar a cara do projeto, a quem sobraria essa responsabilidade? Temos um projeto à deriva, onde Christian Malheiros tenta sozinho injetar verdade ao que se vê, e onde não precisávamos encontrar Miguel Falabella vestido de vaqueiro espacial. A aparição na reta final do astro nos dá a clara conclusão de um filme onde a protagonista sabe lutar de maneira exímia e nem tivemos conhecimento como. Isso tudo (e mais um pouco) é Biônicos.
Um grande momento
A discussão entre Maria e Gus