Crítica | Outras metragens

Todo Incluido

A certeza da dor

(Todo Incluido, FRA, COL, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Duván Duque Vargas
  • Roteiro: Duván Duque Vargas
  • Elenco: Alejandra Herrera, Maximiliano Rojas, Leopoldo Serrano
  • Duração: 20 minutos

Há muita simplicidade no modo como Duván Duque Vargas retrata o universo do pequeno Fér no curta Todo Incluido (All-Inclusive). A relação entre três pessoas é construída com delicadeza e atenção aos detalhes. E não há como não se envolver com aquela criança, que observa tudo ao seu redor e nos leva junto com ela a uma jornada ao fundo de seus sentimentos, percebendo ruir gradativamente o que tem ao seu redor.

A direção de Duque Vargas, logo no princípio, mostra que procura trazer a pessoalidade. A primeira cena quer aproximar o espectador daquela família e não tem jeito melhor de fazer isso do que o colocar dentro do carro, pegando a estrada junto com ela. Logo ali, em poucos minutos, as relações ficam claras: onde há cumplicidade, onde há distanciamento, onde há medo. A tensão que circunda Fér, Fernando e Natália é real e ela vai aumentando à medida que os acontecimentos vão se desenrolando.

O roteiro de Todo Incluido, assinado pelo próprio diretor, traz uma parte da realidade colombiana para sua história com luxos inesperados, favores escusos e trabalhos que não podem nunca ser totalmente revelados. No drama do casal, uma crise que já vem de antes chega ao seu ápice, e as consequências ultrapassam a relação. Como em qualquer família, atingem aqueles que estão ali dividindo o mesmo cotidiano.

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Não é apenas pelos olhos de Fér que acompanhamos o desgosto do que está lá fora, sentimos com ele o constrangimento e a tristeza de Natália e o medo pelas ações de Fernando. A composição traz imagens incompletas e deixa que as sensações tenham tempo para se reafirmar nos silêncios. Há um lado infantil que não se abandona também, embora ele seja interrompido por tensões que chegam ora abruptamente, ora são percebidas nas conversas sussuradas.

Todo Incluido costura muito bem os vínculos estabelecidos, em especial o de Natália e Fér. Ainda que tenha escapes ocasionais em momentos importantes para a história, como na belíssima sequência do karaokê, do começo ao final do filme, é a ligação entre a madrasta e o enteado que a câmera procura. E é esse elo que torna o filme tão dolorosamente profundo e inescapável. A complexidade está ali, em um profundo amor e em situações que não podem ser modificadas.

Um grande momento
Vendo os dois dançarem

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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