Crítica | Outras metragens

Blackout

(Blackout, BRA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Rossandra Leone
  • Roteiro: Rossandra Leone, Pedro Gomes
  • Elenco: Adrielle Vieira, Marcéu Pierrotti, Daniel Varga, Marcelos Dias, Joabe Santos, Ana Paula Patrocínio e Danrley Ferreira
  • Duração: 19 minutos

Em 1908, Jack London lançou o “Tacão de Ferro” e abriu as portas para todo um universo de criações ficcionais distópicas, que imaginavam um futuro dominado e doutrinado. Anos mais tarde surgiriam “Nós”, de Yevgeny Zamyatin; “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e “Revolução dos Bichos” e “1984”, de George Orwell, obras fundamentais ao gênero, que não cessa de crescer e apresentar-se nas mais diversas artes, da pintura ao audiovisual. O curta-metragem Blackout é mais uma dessas obras que imagina o “lugar ruim”, indo pela origem da palavra.

Blackout acontece em 2048. Começa em uma festa de rua e chama a atenção pela construção estética em detalhes pontuais que reafirmam a criatividade tão presente nas obras da ficção científica. É um cinema que interessa justamente por essa busca por elementos que representem aquilo que ainda não aconteceu, com elementos deslocados de suas funções originais e outros que estão ali justamente para reafirmar a relação com o presente, ressaltando a possibilidade do acontecimento.

Blackout, de Rossandra Leone (2019)

Ao lado da inovação, há uma certa contaminação pela influência das obras definidoras do gênero, nada que também não seja comum às distopias futurista. O filme de Rossandra Leone restringe boa parte de sua ação a uma sala de interrogatório, fazendo referências ainda que não explícitas a elementos huxleynianos como o Grande Irmão, método de vigilância e controle, e a soma, de contenção social, e ao sadismo orwelliano. Há também a modernização, com a inserção de tecnologias que se aprimoram a cada dia.

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No espaço físico restrito e asséptico é possível perceber a elaboração estética. Ainda que restrita ao orçamento, ela é bem pontuada com imagens projetadas e outros elemento também já comuns ao gênero, mas eficazes. Se pontuais as intervenções, Blackout se reafirma como um filme de roteiro, onde a palavra tem um grande peso no resultado. E eis aí a primeira questão do curta, falta uma atenção maior à direção de atores. As atuações oscilantes dos atores principais, ambos com bons momentos, mas não simultâneos, fazem com que o texto se torne gradualmente desinteressante.

Afrofuturista, trazendo um contexto de raça muito forte e relevante às dinâmicas de opressão de qualquer distopia, com a definição muito clara dos povos oprimidos e a busca pela reversão utópica iniciada dentro daquela sala, Blackout sofre com a repetição de elementos, destacada justamente pela pouca ligação com o texto. Porém, politicamente, por ser mais uma elaboração empenhada na ficção científica distópica que tanto se confunde com os dias atuais, quando parece que chegamos ao antes profetizado por tantos e enxergamos qualquer retrocesso como possível, tem o seu valor.

Um grande momento
Lavando as mãos.

[48º Festival de Cinema Gramado]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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