Drama e Mistério
Criador: Esmir Filho
Temporada: 1-
Elenco: Caio Horowicz, Iza Moreira, Michel Joelsas, Denise Fraga, Thomas Aquino, Luana Nastas, Bianca Byington, Bruno Garcia, Grace Passô
Duração média: 30 min.
Canal Netflix
Isto aqui, O que é, Caetano?
Isto aqui, ô ô
É um pouquinho de Brasil iá iá
Deste Brasil que canta e é feliz
Feliz, feliz…
Em Progresso, uma epidemia se inicia e expõe não apenas que a busca da ordem é uma hipocrisia praticada para manutenção de status de privilégio, mas também que apenas quebrando esta estrutura que impõe este abismo social é possível se salvar vidas. Boca a Boca, da Netflix, é a série brasileira quase profética que ironicamente usou nossos novos símbolos nacionais para costurar a trama.
Na direção, nomes em ascensão que vêm ganhando peso no cenário nacional, como Juliana Rojas que foi umas das roteiristas da série 3% e dirigiu As Boas Maneiras e Sinfonia da Necrópole, e Esmir Filho de Os Famosos e os Duendes da Morte, Alguma Coisa Assim e que nos presenteou para a vida com O Tapa na Pantera. A equipe conta, ainda, com Juliana Soares que participou de produções como Ninguém Tá Olhando, Bingo: O Rei das Manhãs e Como Nossos Pais. Cucas legais!
A série mistura adolescentes numa cidade do interior, redes sociais, descobertas, entregas e fugas, com uma doença misteriosa, transmitida pelo beijo e toda a dúvida que tudo isto traz. Aquela armadilha que nos leva a somar culpa para explicar e justificativa de força para tentar evitar. Tudo isso filmado em Goiás Velho de Cora Coralina, que fica linda de dia, e com festas cintilantes na floresta de noite.
É difícil não criar uma relação mais de carinho por Fran (Iza Moreira), Chico (Michel Joelsas, de Que Horas Ela Volta?) e Alex (Caio Horowicz, de Califórnia), que se apresentam desde o início como esperança de um futuro mais justo, tolerante e puro. Muitas vezes confundidos com rebeldes e transgressores, os jovens apenas se mostram mais sensíveis e corajosos aos fatos e sentimentos aos quais estão expostos e imersos.
Os símbolos nacionais vêm como crítica social: na relação fazenda / colônia, na constante fala de que o que vem de fora é ruim, nas leituras da Bíblia enquanto a fala se diverge das imagens e atitudes, e principalmente, na família e no dinheiro como desculpas para ser cruel.
Existem dois conceitos importantes aqui para serem muito bem entendidos e que vão ajudar na grande sacação desta série: o total e a secundidade. O primeiro se refere às questões de totalitário mesmo, que busca apartar os indivíduos do convívio de um grupo externo, estabelecendo regras de conduta e até pensamentos, formalmente administrada.
A segunda é “táticas de adaptação”, que existem dois tipos: as de primeira ordem (que é seguir o que se estabelece no código e pronto, viver lá abaixando a cabeça de boas), e as de segunda ordem (que é encontrar brechas nas regras e viver na clandestinidade, como um namorinho no convento ou uma droguinha na prisão – sugestão de leitura “Manicômios, prisões e conventos” de Erving Goffman).
Por isso tudo, não adianta impor sua vontade e estabelecer que todos sejam obrigados a seguirem leis ou regras para serem como você quer, vai rolar festinha louca no mato, vai ter beijo na boca, vai ter religião, seitas, drogas… Não adianta bater ou matar, não adianta… aceitar as diferenças e estabelecer igualdade de direitos e oportunidades (seja para a vida, seja para a cura) é o único jeito de salvar vidas.
O beijo na boca é o menor dos problemas dos jovens de Progresso. A ameaça do que “vem de fora” também não é exatamente o que deveria assustar a população, mas a sua própria mesquinhez e a falta de empatia, não apenas com seus colegas, vizinhos e empregados, mas principalmente com seus próprios filhos. E fica aí um possível gancho para mais pano pra manga…
Com uma trilha sonora maravilhosa (para quem diz que não existe coisa nova boa, aperta o play!), uma linguagem jovem e bastante moderna: o recado é dado. Tem piração? Tem, sim senhor! Mas a piração envolve neon, glitter e 3D – o charme pode estar exatamente aí… se solte e entre na pira!
Melhor episódio
T01E04: a fim de real?