(Casa Blanca, MEX, POL, CUB, 2015)
O modo como um documentarista interage com seus personagens é sempre um dos pontos mais interessantes a ser analisados no cinema documental. Em Casa Blanca, filme apresentado como trabalho de conclusão de curso da cineasta polonesa Aleksandra Maciuszek, é impressionante perceber como a diretora, sempre invisível, integra-se ao cotidiano de seus retratados.
O método de observar, sem interferir no ambiente ou incentivar respostas e reações, exige uma grande intimidade com aquele universo que está diante da câmera, seja com o próprio espaço físico e as pessoas.
E é assim, como observadores silenciosos, que Maciuszek nos expõe a vida de uma mãe e um filho. Neusa é uma senhora de idade já bastante debilitada e Vladimir, portador de síndrome de down. Ambos precisam de cuidados especiais que não têm e são muito explícitos quanto ao afeto que sentem um pelo outro.
Encontrar essas pessoas e conseguir retratá-las poderia ser mais um ponto positivo para a diretora se não fosse uma questão mais sensível envolvida: aquelas duas pessoas têm condição de autorizar a exposição de suas vidas? Uma senhora que, da metade para o final do filme, mal se comunica, e um jovem que, apesar dos 37 anos, é obviamente comprometido pela doença, podem compreendem o que será aquilo de verdade?
E essa é apenas a mais grave das falhas do longa-metragem. Embora consiga, em vários momentos, ser poético na exposição daquele amor, com momentos singelos e delicados, há um apego à miséria humana impossível de ser ignorado. O fato de fazer questão de fotografar o menino apavorado com as brincadeiras dos moradores do local ou sua embriaguez durante uma discussão com a mãe, cenas de cortar o coração, transforma qualquer boa intenção do filme.
Some-se a isso o fato de Maciuszek deixar transparecer uma curiosidade sádica, que expõe a miséria até o limite, mas depois se afasta dela, como se aquela realidade tivesse deixado de existir ao final do último take. Pensar que ela é alguém que não pertence àquela sociedade e, muito pelo contrário, é uma estudante estrangeira, torna o resultado ainda mais reprovável.
Casa Blanca pode até surpreender pela pesquisa e pelo apuro na captação de imagens e montagem final, mas o que se vê na tela é a exibição sensacionalista da vida de pessoas que mal sabem o que está acontecendo. Mesmo que se esconda atrás do afeto, não é a ternura que busca nos espectadores, mas uma reação à miséria, elemento que explora da primeira à última cena.
Muito além da chamada patrulha do politicamente correto, o documentário tem problemas éticos. E contra estes problemas, não há perfeição estética que dê jeito.
Um Grande Momento:
Príncipe de olhos puxados.
[26º Cine Ceará]