Crítica | Streaming e VoD

O Mistério de Block Island

Premissa que fica na promessa

(Block Island Sound, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Terror, Ficção cientifica
  • Direção: Matthew McManus, Kevin McManus
  • Roteiro: Matthew McManus, Kevin McManus
  • Elenco: Michaela McManus, Chris Sheffield, Neville Archambault, Matilda Lawler, Ryan O'Flanagan, Jim Cummings, Heidi Niedermeyer
  • Duração: 103 minutos

A hereditariedade no cinema de gênero ajuda a propagar a sensação de medo que aterrorizou muitos personagens ao longo dos tempos, incluindo um título recente que trazia já em sua nominação a marca deste símbolo tão característico do terror e do sobrenatural (‘Hereditário’). Esse novo ‘O Mistério de Block Island’, recém estreado na Netflix, lida com essa chave para construir sua narrativa, mas inclui em seu caldeirão uma espécie de denúncia ecológica a respeito da mortandade de peixes e outras espécies em uma mistura que não se mostra muito eficaz para abrir sua premissa, mas que gradualmente vai sendo esquecida pelo roteiro. 

Imagem de O Mistério de Block Island

Apesar de aparentar um certo frescor narrativo, muito rapidamente aquela estranheza de seus elementos cênicos, de sua atmosfera e do lugar afastado escolhido para ambientar o longa é negligenciada por seus autores e diretores, os irmãos Kevin e Matthew McManus, que preferem abrir mão dessa pitada de novidade em um formato que pode abrigar tantas repetições quanto a ficção científica, e perdem a conexão com o ambiente em si, que poderia e deveria criar uma outra camada de personalidade à produção e ser uma espécie de personagem-coringa, oprimindo a quem os desafia. Essa alegoria está em cena mas de maneira pouco explorada, quando poderia ser enfatizada. 

O ponto de partida do roteiro, que reúne diversas atividades inexplicáveis varrendo os quatro cantos do mundo e que se interligam pelo aumento expressivo de casos envolvendo mortandade de animais, elabora uma conexão entre uma espécie de comentário social local e esses eventos espetaculares utilizando uma personagem externa à ambientação, porém não há o que deveria uma necessária manutenção do tema, que se mantém apartado da narrativa que se constrói e logo perde força, mostrando uma espinha dorsal frágil e claudicante, que não consegue desenvolver seu argumento na totalidade, criando um vácuo de intenções entre a ideia e o desenvolvimento. 

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Imagem de O Mistério de Block Island

O que resta de relevante é essa relação perdida entre pai e filho, afastados por uma espécie de abdução que lega ao filho sua herança familiar, desenvolvida aparentemente pela família e pela cidade há gerações. A partir dessa ideia que é o interesse principal do filme, ‘construída imageticamente pelos irmãos McManus uma figura de impacto verdadeiro e que ressoa de maneira positiva dentro da atmosfera procurada pela produção; a figura em cena do ator Neville Archambault é trabalhada de maneira impressionante, sua maquiagem é acertada e suas inserções transformam a experiência de ‘O Mistério de Block Island’ mais relevante do que poderíamos supor. 

No geral, o elenco e seus personagens não ajudam muito ao filme na tarefa de criar uma empatia junto ao público. Mesmo o protagonista, interpretado com visível empenho por Chris Sheffield, não estabelece qualquer elo empático com o espectador, e seu universo familiar não fica muito atrás, todos deficientes de uma estrutura mais robusta que sustente suas trajetórias e seus discursos, que beiram o desinteresse por diversas vezes. Ainda que sua estrutura técnica promovesse uma ideia abrangente sobre aquele universo, ficaria difícil encontrar uma porta de entrada para o interesse graças a tais tipos, mas a condução estética do filme está igualmente desinteressada em criar algo. 

Imagem de O Mistério de Block Island

A conclusão que chegamos ao término de ‘O Mistério de Block Island’  é de que premissa e desfecho, ou seja, o arco dramático de um projeto, não são suficientes para sustentar o todo quando há um abandono sobre o miolo da produção e de um revestimento psicológico em uma trama onde esse aspecto se reproduz para situar sua ambientação. Um projeto com certo verniz que acaba se mostrando muito mais modesto e esvaziado do que o quadro geral se apresenta, um desperdício de oportunidade. 

Um grande momento

A primeira abdução.

Ver “O Mistério de Block Island” na Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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