Crítica | Streaming e VoD

Enola Holmes

(Enola Holmes, GBR, 123)

  • Gênero: Aventura
  • Direção: Harry Bradbeer
  • Roteiro: Jack Thorne
  • Elenco: Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Fiona Shaw, Adeel Akhtar, , Louis Partridge, Susan Wokoma, Burn Gorman, Jay Simpson
  • Duração: 123 minutos
  • Nota:

Baseado no primeiro volume de uma série literária que rendeu cinco outros escritos por Nancy Springer, Enola Holmes é uma produção originalmente da Warner Bros. que, por conta da pandemia da Covid-19 foi adquirida pela cada vez mais gigantesca Netflix, e que provavelmente pretende se tornar uma nova cinessérie, na linha de outras de sucesso infanto-juvenil cinematográfico (mais precisamente Harry Potter), e visando atrair esse público cativo e garantido, o filme ganha as telas em momento delicado para se tornar o fenômeno que J. K. Rowlings sonhou há 20 anos, porém hoje fenômenos não necessariamente precisem de imensos números de bilheteria.

E a verdade é que essa adaptação cumpre todos os requisitos, de adesão e de qualidade, para se tornar um hit do canal de streaming daqueles com acessos inatingíveis. Produção muito honesta, competente demais, feita para agradar gregos e troianos e que consegue essa façanha, ao contrário da maioria das tentativas onde vários alvos são pretendidos, há capricho claro no emprego dos valores gastos e o filme tem aquela rara sedução que um blockbuster nos dias de hoje consegue atingir, que não se resumem a efeitos especiais espetaculares e imensos recursos computadorizados; ainda que eles estejam lá, a discrição é a palavra de ordem, o que torna o material muito palpável.

Enola Holmes

Essas características de “produto à moda antiga” não só caem bem e atraem público em busca de divertimento genuíno ao projeto, como remetem a um tipo de cinema que obviamente não é mais produzido, empobrecendo a cena blockbuster hoje, que vive à mercê de projetos carinhosos e manufaturados como esse para manter não apenas o caixa funcionando, mas principalmente agregando qualidade a um segmento cada vez mais estéril e desgastado. Curioso notar que o cinema hoje precise de um projeto tão inocente e “antiquado” quanto esse pra se mostrar vibrante e relevante; melancólico que um filme que poderia ter sacudido a indústria chegue de maneira diferente do planejado ao seu público.

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O responsável por Enola Holmes não demora a deixar clara sua marca. A irmã mais nova de um certo detetive inglês Sherlock se comunica diretamente com a plateia, ora conversando com a mesma, ora apenas fazendo interjeições com o rosto, tal qual uma certa jovem inglesa de nome Fleabag e protagonista de série homônima; sim, Harry Bradbeer, diretor de 11 dos 12 episódios da espetacular e premiadíssima Fleabag é o homem por trás da produção, o que garante a esperteza e a rapidez ideais para o filme, mas que talvez use demais esse elemento que Phoebe Waller-Bridge cunhou tão bem, ainda que o charme seja mantido.

Enola Holmes

E por mais que seu elenco talentoso e eficiente esteja em plena forma (Helena Bonham-Carter, Henry Cavill, Frances De La Tour e Sam Claflin, esse último especialmente muito bem), o filme se torna o que é graças ao imenso talento e carisma de Millie Bobby Brown, em seu primeiro grande desafio pós Eleven (Stranger Things). Já atuando aqui como uma das produtoras, Millie é uma estrela sem dúvida, e sua facilidade pra criar uma personagem tão adorável, poderosa, cheia de atitude porém decorosa ao seu tempo, repleta de nuances e sensibilidade transforma o ato de assistir ao filme um prazer completo, e o roteiro de Jack Thorne (Extraordinário) lhe devolve em grandes cenas, que ela executa à perfeição.

A cereja do bolo de Enola Holmes é algo muito particular ao crítico que vos fala, a transposição de uma obra literária para as telas. Mesmo sem acessar as obras originais, um filme adaptado de um livro grande parte das vezes deixa em sua narrativa a clareza dos saltos narrativos que apontam os blocos de acontecimentos que foram suprimidos para caber toda a ação direta possível no resultado final. Pois o trabalho aqui anula a existência desses saltos, criando uma obra muito fluida de diversão orgânica. Um passatempo ligeiro sim, mas um trabalho de raro cuidado para o grande público, que inclui dedicação e a certeza do lado de cá de conferir as continuações apenas se conduzidas pela exata mesma equipe, sem tirar nem pôr ninguém.

Um grande momento
“Que mulher você se tornou!”

Ver “Enola Holmes” na Netflix

Fotos: Alex Bailey e Robert Vigloski/Legendary

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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