- Gênero: Policial
- Direção: Gareth Evans
- Roteiro: Gareth Evans
- Elenco: Tom Hardy, Jessie Mei Li, Justin Cornwell, Quelin Sepulveda, Luis Guzman, Timothy Olyphant, Forest Whitaker, Jeremy Ang Jones, Yann Yann Yeo
- Duração: 98 minutos
-
Veja online:
Gareth Evans é um dos melhores diretores de ação na atualidade, e não precisou de mais do que dois exemplares de Operação Invasão para que se perceba isso, e aí declarar tal frase. O que ele faz nesse novo filme, Caos e Destruição, reafirma isso, e não desmente qualquer característica alcançada anteriormente. O que Evans e seus produtores não esperavam era que seu novo título fosse tão bem abraçado, independente do que ele concilia em cena – existe agora uma reverberação da sua voz, que já tinha dirigido Apóstolo pra Netflix. Esse aqui se encontra em lugar parecido com o que sua revelação no cinema representou, com alguns pontos agudos que o tornam diferente de um protótipo que costuma surgir no cinema de ação estadunidense, que é o lugar onde esse tipo de filme geralmente prevalece.
Em sua textura, se encontra uma narrativa bastante fragmentada que acompanha um grupo de traidores de pelo menos três facções distintas: policiais corruptos, um candidato a prefeito igualmente corrupto e seu filho, e uma gangue de traficantes chineses. Não que isso seja uma prerrogativa de Caos e Destruição, mas sinto que estamos diante de uma preocupação menor desse projeto, em comparação ao que Evans realizou antes. Sua dedicação é totalmente refém da realização, e mesmo que ele também seja o roteirista do projeto, o filme abre mão de aparentar uma dita linha que seja sustentável. No seu lugar, é apresentado um jogo de imagens que vive por si só, e que recusa a normatividade que uma inclinação pede ao cinema.
O resultado é um trabalho de coreografia, de planos e de corpos, que desenham um modelo que não é desconhecido, principalmente para esse gênero cuja procedẽncia remete ao dinamismo do corte e do corpo. Evans é, de formação, um coreógrafo de cenas de luta, assim como também o eram grandes cineastas de hoje (David Leitch, de Atômica, e Chad Stahelski, da série John Wick, entre eles), e assim como seus colegas, tem habilidade em set pieces. Essa expressão gringa existe para definir um grupo de cenas que revelam o quão complexa pode ser a execução de um momento. Em Caos e Destruição são tantos os momentos elaborados do ponto de vista da condução dos seus elementos como também de sua demanda autoral, que o resultado geralmente é impressionante em todos os sentidos.
Enquanto tenta fazer seu mosaico menos complexo em roteiro, Caos e Destruição não consegue ir além da patinação. Ao abrir mão do que o puxa para baixo, que seria essa tentativa de entregar um modelo de narrativa explicativo, todos saem lucrando, e uma obra vibrante pede passagem. E o filme segue com esse entrave, onde as cenas de coreografia complexa crescem o material geral, e quando o filme necessita de um respiro para encontrar sentido no que criou como base, a âncora é arremessada e o filme trava. Ao longo de pouco mais de 100 minutos, essa ação incessante garante ao filme a adrenalina necessária para carregar o espectador até o fim da jornada.
Tem um lugar bom para Tom Hardy no protagonismo, Indicado ao Oscar por O Regresso, o ator que geralmente ocupa espaços lacônicos aqui exercita suas melhores armas, com um personagem cheio de vitalidade. Não apenas no que exerce de ação, mas justamente na forma como lida com os outros personagens, são dele as cenas onde Caos e Destruição consegue vibrar para longe do lugar de velocidade. Em cada personagem com que cruza, Hardy se dispõe a um encontro real, com sangue nos olhos – e em muitas outras partes do corpo também. Através do seu encontro principalmente com Jessie Li Mei (de Noite Passada no Soho), a produção ganha o elemento que não pode faltar a esse exercício de imagem e as qualificações que ela delimita.
Enquanto usa alguns planos longos para qualificar suas cenas e mostrar que sua carpintaria não é vazia, Evans pretende mais é galvanizar de violência o retrato que estabelece aqui sobre camadas de traição ininterruptas. Muito rapidamente, não sabemos exatamente quem obedece a quem, e porque tal pessoa merece mais glórias que seus opostos. O que vale para a totalidade é embarcar nesse absurdo caleidoscópio de sangue, onde cada encontro com a morte não apenas define algo, como principalmente deflagra uma explosão de horror na frente da tela. Nada disso é ruim ou chocante (ok, para alguns espectadores pode ser), mas chama a atenção em um tempo onde nada disso mais está exposto nas telas. Que a violência continue sendo vista como algo grotesca e apavorante, creio que é um papel social que o cinema não é obrigado a ter, mas que a coloca no lugar devido, sem máscara.
Um grande momento
Ataque à boate