- Gênero: Documentário
- Direção: Laura McGann
- Roteiro: Laura McGann
- Duração: 106 minutos
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Ano passado, Vulcões foi um dos filmes mais bem sucedidos do ano na área documental, com a história de Katia e Maurice Krafft, um casal de vulcanólogos que percorreram anos atrás do seu grande amor, enquanto, por um acaso, também nutriam sentimentos um pelo outro. O filme ganhou inúmeros prêmios e foi indicado ao Oscar, abrindo espaço para outras obras que abordem casais que desafiam o perigo em seu cotidiano. De Tirar o Fôlego estreou na Netflix já com cara de provável indicado no próximo ano, após uma passagem bem sucedida pelo Festival de Sundance deste ano. Adentrar a narrativa do filme de Laura McGann é como acompanhar uma origem muito primordial a respeito de duas pessoas, de seu encontro com um propósito que parecia desconhecido, e do nascimento da maior história que alguém poderia viver; é como olhar a juventude dos Krafft.
Essa é apenas a segunda direção de McGann, e a jovem demonstra segurança e contenção na hora de contar uma história que, em tese, qualquer um pode saber o final antes mesmo de começar a projeção. Estamos falando de duas pessoas muito famosas em sua profissão, premiadas e reconhecidas, o que contribui para que nada precisasse ser tratado como o filme apresenta. No entanto, De Tirar o Fôlego é uma tentativa de molde ficcional para acontecimentos reais, no sentido de conservar a ordem dos eventos apresentados sem explorar o conhecido posterior, e manter uma linhagem de suspense dentro do possível. Para quem não tem ligação profunda com o esporte essa estrutura funcionará ainda mais, mas afinal quantos são os assinantes Netflix que tem aproximação com o universo do mergulho livre?
Para conseguir realizar a façanha de transformar um documentário composto de relatos no estilo ‘cabeças falantes’ em algo que transmita algum fascínio, McGann não teatraliza sua narrativa, mas compreende o valor emocional inerente aos seus dois protagonistas. É quando o espectador entende (e o filme confirma) que De Tirar o Fôlego fala também sobre a busca emocional de Alessia Zecchini e Stephen Keenan, duas figuras unidas pelo mar. O filme passa a correr atrás de seus passos, seja em sua descoberta mais prematura ou na realização mais atrasada de como esses dois seres necessitam de algo maior para viver, e isso é encontrado nessa conexão inequívoca com o oceano, com seus mistérios e os desafios que ele propõe.
Com essa métrica estabelecida, De Tirar o Fôlego progressivamente avança na direção das águas profundas. Após uma abertura desconcertante, o que a respiração consegue capturar diante de tanta aflição é muito mais do que o corpo das atletas, que se transformam em verdadeiras serpentes marinhas, a se deslocar da maneira menos vertebrada possível para a escuridão sombria do fundo do mar. São imagens sempre atordoantes porque lidam com o que pode haver de pior na composição humana, que é a nossa capacidade comportamental de esperar em meio ao ‘nada’ mais belo que pode existir. Assim o filme lida com essa tensão em camadas que identifica e constrói, colocando o espectador por uma “longuíssima” espera de 2 minutos, muitas vezes, e que define sim os limites entre a vida e a morte. O olhar do pai de Alessia para o monitor do computador dá a exata noção de que, embora não sejamos pais da protagonista, o que deve ser o estado de espírito daquele homem ao longo da vida, assistindo a filha desafiar limites inimagináveis.
Paralelo às imagens hipnóticas que o filme consegue capturar, ao rosto impenetrável dos atletas durante os bloqueios cerebrais que eles passam ao retornar a superfície e do perigo constante que a atividade representa, De Tirar o Fôlego também cria esse jogo narrativo envolvendo Alessia e Stephen, suas trajetórias e seu encontro, carregado de expectativa. É da combinação entre essas ferramentas que emerge o que nos toca no trabalho de McGann, que consegue driblar as armadilhas do formato burocrático para criar um painel emocionante sobre o esporte, mas acima disso, sobre as relações que nascem em ambientes de estresse e cobrança excessiva. Como se fora dois lados da mesma moeda, Alessia e Stephen se encontraram e fizeram dessa conexão uma fonte de inspiração.
É através desses personagens que De Tirar o Fôlego alcança a empatia do público, ao mesmo tempo em que sua diretora compreende e amplia o canal afetivo entre seus protagonistas, e deles com quem os assiste. Com uma apropriação do suspense invejável para o material que apresenta, seguimos até o final como em uma corda bamba, nos equilibrando entre as vertentes da obra e entregando ao público final material surpreendente de cinema, que potencializa tudo que é apresentado graças a identificação com tudo em cena: o amor, o medo, a obstinação, o heroísmo, o triunfo, a sensação de dever cumprido, e um afeto que banha as relações e alcança o espectador desavisado.
Um grande momento
Atravessando o arco