Crítica | Cinema

Mansão Mal Assombrada

Um elenco contra a burocracia

(Haunted Mansion, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Justin Simien
  • Roteiro: Katie Dippoldi
  • Elenco: LaKeith Stanfiled, Rosario Dawson, Tiffany Haddish, Owen Wilson, Danny DeVito, Chase W. Dillon, J. R. Adduci, Jamie Lee Curtis, Jared Leto.
  • Duração: 117 minutos

Há exatos 20 anos, a mesma Disney lançava nos cinemas uma versão de seu brinquedo Mansão Mal Assombrada, estrelada por Eddie Murphy que custou 90 milhões de dólares e arrecadou o dobro; não exatamente um fracasso mas longe de ser um sucesso. A empresa do Mickey retoma a ideia nesse novo Mansão Mal Assombrada, que não creio que fará algo diferente disso, com a preocupação de agora ter custado 160 milhões. Não entendo muito bem o propósito da releitura, mas o filme está pronto e consegue ser um pouco superior ao anterior, ainda que a justificativa para retornar a esse universo nem faça muito sentido, muito menos resulte em algo definitivo. A impressão que dá é que em 2043 teremos uma nova versão, do qual já podemos ter mais medo do que das assombrações residentes das produções. 

O novo filme é dirigido pelo incrível Justin Simien, de Cara Gente Branca e Bad Hair, dois filmes que colocam a negritude em movimento de mobilização junto ao mercado, com discursos potentes que não atrapalhavam os códigos de leitura de gênero, principalmente no segundo. Essa sua nova incursão não fica muito longe de um projeto onde ele foi contratado e desempenha uma função do qual está sendo regiamente pago, simples assim. Com um currículo ainda curto, entende-se sua tentativa de espraiar conhecimento e motivar novos e futuros contatos, para isso servindo como preposto de uma ação multimilionária que pretende realizar um produto para vender ingressos, quase que exclusivamente. Dentro do que isso representa, Simien se movimenta como pode. 

O significado é um filme de produtor onde seu diretor não tem muita voz ativa de criação artística, embora esteticamente Mansão Mal Assombrada se aproxime do mesmo apuro conseguido em seu filme anterior, uma incursão pelo terror satírico de dar orgulho aos seus contemporâneos. Seu lugar aqui, no entanto, se assemelha ao do comandante de um navio, empenhado em manter todos secos e vivos durante a viagem. E responsável por impedir um naufrágio maior, Simien ocupa sua função tentando colocar ordem em uma casa que poderia sair desgovernada por aí; graças às suas capacidades, todos terminam ilesos, ainda que ligeiramente entediados. Não é uma comédia que provoque nossos instintos mais básicos, mas tudo poderia ser ainda pior se o elenco escolhido não tivesse o grau de comprometimento (e talento) demonstrado aqui. 

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Independente também desses predicados óbvios de cada um, é preciso reconhecer o mérito pela reunião de cada um desses integrantes, que formam uma equipe tão sui generis. Lakeith Stanfield (indicado ao Oscar por Judas e o Messias Negro), Tiffany Haddish (de Viagem das Garotas), Rosario Dawson, os lendários Danny DeVito e Jamie Lee Curtis, Owen Wilson e o pequeno Chase W. Dillon (aquele da interpretação sobrenatural em The Underground Railroad) formam um grupo que poderia dar muito errado, porque são muitas vertentes distintas, e sua união é o que empresta brilho ao projeto. Através do que fazem juntos, e da maneira como se postam em cada cena sempre humildes, Mansão Mal Assombrada escapa de ser um produto absolutamente descartável, porque essas pessoas mostram algo de seu potencial em cena. 

Em seus aspectos técnicos, a direção de arte do filme é o que mais chama atenção, e consegue se sobrepor aos bons efeitos especiais. Mas nada em Mansão Mal Assombrada sequer tenta se livrar da pecha de um produto feito para a massa consumir. Não é muito saudável quando essas intenções se mostram tão frontalmente sem fornecer nada de significativo em troca, a não ser o conceito de passatempo, que é muito relativo. Com duas horas de duração, o tempo não se encontra travado no ritmo, mas como não levamos nada para servir a um propósito, nem diverte o suficiente, saímos da sessão com a grave impressão de que fomos convidados a uma festa para divertir os donos, e não o contrário. 

E um filme que se assume enquanto produto mercadológico vindo da Disney, que passa a vida tentando disfarçar que seus materiais vão além disso de maneira mais e menos bem sucedida, é um campo de difícil absorção. Mansão Mal Assombrada está inserido em um mercado competitivo em grau poucas vezes visto antes, onde os filmes se devoram semana a semana, e onde o diferencial para chamar a atenção do público precisa ir além de um detalhe ou dois. Aqui, o resultado é um título curioso, que nos mostra uns ‘cameos’ bacanas, com momentos onde a diversão consegue se fazer presente, e em que somos até surpreendidos em alguns momentos, mas é tudo insuficiente para tornar seu produto chegar até a memória no mês que vem. 

Um grande momento

Danny DeVito no restaurante

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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